RIA ADORMECIDA
Tarde limpa, intemporal
Que o acaso pintou
De uma tranquilidade imaculada
A ria parece estender-se até ao infinito.
Sobre ela, docemente pousadas
As embarcações miram-se no vitral espelhado
Num momento exacto a sugerir eternidade;
Há nesse olhar a mudez da saudade
De um tempo não esquecido
Ou então apenas, um murmúrio traído (?!)
Aqui o tempo findou
Anunciando a noite mais bela
Onde amor se escreve tão longo
Como curta a vida.
No marulhar dos murmúrios.
A luz parece despida, recolhida,
Alheada a entretecer os dias da memória.
Deixo-me aqui ficar, esquecido, a sorve a maresia
A sonhar acordado
Com a estranha precisão daquela simetria.
Fico à espera que as sereias venham de madrugada
Para me levar para qualquer lado.
Singrando no seu peito nú
Chegarei a um porto de abrigo,
Onde a noite não escureça
A encontrar a natureza redoirada.
Para a pintar no silêncio recolhido.
[ de meus olhos amanhecidos.
SF (Out 2011)
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