terça-feira, outubro 25, 2011

O MERCADO do TORREÃO

Logo após a implantação da Republica, em 1911, a Câmara de Ílhavo presidida por Abel Regalla, evocando estado de ruína da Capela das Almas e afirmando existir perigosidade para os frequentadores do oratório de culto,ao tempo em que exibia um parecer de conforto do Departamento das Obras Publicas, de Aveiro(a subscrever a intenção), decide desmantelar a dita Capela, mandada erigir pelo Prior João dos Santos, em 1771.





                                                    A Capela das Almas





                                                 A Capela das Almas vista do Alto –Bandeira

Em 1914, a Câmara, da presidência de Joaquim Valente decide edificar no mesmo local um Mercado Municipal, com o que pretendeu substituir a Praça Alexandre da Conceição (actual Praça da Republica), onde até então, depois de abandonado o Largo do Oitão, se fazia o mercadejar diário, na Vila.


                                              Praça  Alexandre da Conceição com as vendedeiras ao fundo


O Mercado de 1914 era muito simples. No topo sul um telheiro abrigava do tempo as vendedeiras da hortaliça.No interior do mesmo, deveria terem existido (percebe-se de uma fotografia) uns outros telheiros. Funcionava, aí também, o açougue municipal. O canto sul – nascente era fechado por uma pequena torre (encimada por uma imitação de ameias), no local onde anteriormente tinha estado a Capela das Almas.Nessa guarita estavam instalados os serviços, de pagamento e fiscalização, das taxas de terrado.



                                                            O Mercado de 1914
Foi só em 1925, que a Câmara de Diniz Gomes decide a construção de um novo Mercado. Tratou-se – então sim! – de um edifício de uma certa monumentalidade, de traça muito bonita ,muito funcional para a época ,de linhas muito harmoniosas ,com vistosos pórticos de acesso ao seu interior ,a sul e nascente , realçados ao centro por uma construção inspirada nos torreões dos grandes mercados, do Porto e Lisboa. Localizava-se na esquina sul-nascente, voltada para estrada nacional, encimada por com uma cúpula em abóbada ,revestida a chapa metálica, pintada.


                                                                      O Torreão


Nos alçados,sul e nascente,alinhavam-se várias lojas, com possibilidade de acesso, pelo interior,ao mercado.





                                                            Fachada Sul com Lojas

O mercado era muito espaçoso no seu interior. Circulava-se com grande à vontade, acedendo-se, quer aos quatro telheiros centrais onde as vendedoras e regateiras expunham os seus produtos, quer às tendas de vendas, sitas nos seus laterais. Do lado sul vendia-se o pão de Vale de Ílhavo; do lado norte, ficava o posto da guarda fiscal. A seu lado, para poente, distribuíam-se as bancas de peixe, fresco e salgado. Do lado nascente do posto, ficavam as vendas de passamanarias

No pórtico de acesso do lado sul, na zona coberta, na entrada, situavam-se, á direita e à esquerda, os guichets do Manuel das «Senhas», e do « Manel Pitato», o fiscal camarário.

Ainda no alçado sul ,postavam-se várias lojas : a poente do Torreão ficava :o talho Madail e um pequeno espaçam para o recoveiro . Depois do portão dispunham-se as lojas da srª Ançã, a mercearia e vinhos, do Octávio (anteriormente do sr. Graça),o latoeiro Verdade e o talho do Morgado.

No lado poente, voltado para a estrada nacional,situava-se o 1º posto da PSP (do Jacques & do Jonhs, assim eram conhecidos aqueles simpáticos e bonacheirões zeladores da ordem pública),e o talho do Bela. Depois do portão, para norte, ficava a loja de vidros de louças do Quintino, a loja de panos da Esmerada, e a provisória sede da A.H.B.V.I.



No canto norte, situava-se a taberna do João da«Fonte»,cuja alcunha era provinda da fonte que existia naquele canto, que tinha vindo substituir a primitiva fonte, situada no cruzamento da Rua da Lagoa –Alqueidão, com a estrada nacional.

O Mercado era o ponto de encontro do mulherio. Local para diariamente comprar o necessário, mas também para botar faladura a saber da «nobedades»da véspera, em momento e sítio apropriado para queixume da desgraçada da vida que se dizia estar pelas horas da morte. Ali se faziam e desfaziam nós da vida quotidiana das gentes, se combinavam e garantiam trautos, se faziam arranjos, ou se acudia a precisões.Ou mais prosaica e comumente, se destravava a língua a chaquear, a codilhar da vida de uns e de outros, na mor das vezes na codrice do que não se conhecia mas se ouvia dizer que…

A construção do mercado foi antecedida por intensa polémica. De facto, foi na altura do início da obra (1925) muito discutido se o alinhamento da construção deveria recuar,de modo a permitir um alargamento do local, suavizando a curva que antecedia a subida para o Alto-Bandeira.

                                                                   A Razão da polémica

Curioso foi que em «O Ilhavense», José Pereira Teles, ter discordado, pela primeira vez, de Diniz Gomes ,um atrevimento muito notado, mas que não teve maiores consequências,já que seria o mesmo Pereira Teles quem promoveria o célebre jantar de desagravo e apoio a Diniz Gomes ,quando a câmara




                                            Jantar de desagravo a Diniz Gomes (1925)


 deste, sujeita a inspecção, foi, em seguimento da mesma, dissolvida (dec. Lei 11875 de 13 de Julho de 1925).Substituída pela Comissão Administrativa, constituída pelos Drs José Santos e Júlio Calixto, e ainda, Venceslau de Oliveira. Em 27 de Julho de 1926 foi eleito Júlio Calixto para presidir á Comissão Administrativa da Câmara Municipal.

Diniz Gomes não aceitaria alvitres nem conselhos, e implantaria o Mercado onde tinha planeado.

A vessada do rio tinha já sido comprada à D. Henriqueta Maia.E Diniz Gomes teria já decidido aí implantar o Jardim com o monumento aos Mortos da Grande Guerra (cujo plano fora apresentado em sessão de 12.11.1924), teimando por isso em manter o alinhamento mais avançado sobre a estrada nacional. E teria ainda deliberado adquirir, por 18.500$00, o edifício do Convento (03.03.1924), onde pensava, e veio a instalar, os Paços do Concelho, que por aí se quedaram até que no final do séc. XX, quando foi construído o  edifício da Câmara(onde se instalou o tribunal).

Senos da Fonseca







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