Um telefonema de um amigo de
longa data, que comigo caminhou na diáspora que foi o «assalto» dos ílhavos à enseada dos «mouros»,
ferozmente acantonados no CVCN, onde se julgavam, donos e senhores de tal histórica instituição,
trouxe-me à recordação a «estória» desse tempo. E logo,as muitas e variadas
peripécias até que, varrida a praça forte dos infiéis ocupantes, foi tempo de
refazer o arraial.
O campo que encontrámos, era quase
tudo, escombros. Tudo era podre, como eram os ocupantes. O Clube penhorado por
todos, sem crédito, sem nem qualquer dose de confiança, caloteiro madraço qb.
Ora entre muitas coisas, feitas num
verdadeiro sprint e em com desarcado trabalho (sim, porque há camaradas que pensam
que as coisas aparecem feitas por obra e graça do Espirito Santo, que deu no
que deu…),mas ainda maior imaginação, mesmo envolvidos num turbilhão continuo
de processos judiciais, feita a tomada posse em fim do ano, na primavera seguinte, estava já o Clube a marear, imparável. Uma Direcção
excepcional.
Disposto o CVCN –como o fez! – a dizer no panorama dos Clubes
navais: contém connosco porque queremos ser os melhores.
Bem ,mas nesta véspera da Sr ª da
Saúde, esse amigo(por sinal também adversário aquando das famosas caldeiradas)
ligou-me a «chorar» de ver o estado de abandono a que o CVCN, chegou. Mete dó, de
verdade…De degrau em degrau foi-se afundando, inexoravelmente, e poderá até ser
conduzido a um beco sem saída.
Bem …
Algo que a Direcção daquele tempo
pôs em marcha, foi trazer à Srª da Saúde a Regata dos Moliceiros, carreando
gente para a festa, animando e embelezando a Ria com o colorido estonteante
daquelas embarcações do historial lagunar .
…e lá vieram (Foto Rui Bela)
Poucos saberão como foi
trabalhoso, convencer(quer na ideia, quer materialmente),os arrais a virem, pela
primeira vez, à Costa-Nova. Gente de trato amigo ( depois de vencido o primeiro
contacto, que é sempre muito difícil),foi necessário bater porta a porta, e
com muita insistência,dar garantias de serem, arrais e famílias, bem
acolhidos. Eles nem sonhavam, o que iria ser !
Julgo que teve importância
decisiva, a feijoada das noites de sábado, servida na Garagem Samuel Maia, a
Arrais e familiares, mas e também, o desafio inédito da «Melhor Caldeirada».Que
veio substituir o estafado concurso de painéis. Com um valor pecuniário que
cobria largamente as despesas, havia prémios de certa dimensão para as melhores
do concurso. Esta iniciativa levantou grande interesse e curiosidade, e perto
do meio dia de Domingo, muitos eram os curiosos, vindos apenas para apreciar, e
degustar, as caldeiradas apresentadas a concurso. Verdadeiras obras primas do cardápio lagunar, tal o seu vernáculo extremo.
Fotos Rui Bela
Vinham os familiares e amigos das tripulações, que aproveitavam o fim da tarde de sábado, e a manhã de domingo, para
visita ao Orago, mas e também, à célebre feira de então.
Às duas dava-se a partida para
regata, em frente da muralha. Era um espectáculo assombroso, empolgante, soberbo, apreciar os
inúmeros truques usados por estes mestres da vela a procurar (à dentada, á paulada, ao achega-te para lá, por todo os meios) a melhor posição de largada.
O povo estendia-se por toda a marginal,
participando com grande alarido no apoio aos seus mais próximos.As viragens
de amur a,executadas ali a dois passos da muralha, estendido o bordo até ao
ultimo momento – quando a assistência já gritava e fechava os olhos, prevendo a
batidela desastrosa – na pretensão de ganhar barlavento ao que está ali ao lado,
são feitas debaixo de imprecações,em alta vozearia. «Agora!»…«agora» (leme)…«
mete»(pá) …e «calca…calca» (calcador) estipôr……maneia-te .E logo do lado vinham
gritos :«amuras!....amuras…aaamuras!».
…e assim era o CVCN (Rui Bela)
Quiseram os deuses que em certas, das
várias regatas, o vento soprou forte, e que o pano retesado, levado ao extremo,
conduziu ao raro espectáculo, que era ver um moliceiro em «cuecas»,com os
baixos à mostra. Vira!? …não vira?!..Ahhhhhhhhhhh, safaste-te desta. Aquele
pessoal sente o barco como o cavaleiro tauromáquico. E governa-o com simples
toques (aqui, ali,mais doces ou mais apertados…), que o Moliceiro parece entender, reagindo de imediato ao «desejo»
do seu arraias. O Moliceiro, vela a panear, bombordo-estibordo, leme um chinquilho metido, sai ás arrecuas, como ginete em elegante garbo de trote, a dar posição de investida, ao seu cavaleiro.
Depois da regata, atracados, atenuada a sede, garrafão passado de barco em barco,por ali ficavam até ao receber dos prémio. Que o CVCN, tinha o maior gosto em
entregar, orgulhoso desta iniciativa,
que reputo, ser das mais brilhantes do
seu historial. E foi numa dessas conversas que ouvi a Ti Armanda «Russa», descrever-me as virtudes, da proa do Moliceiro para o supremo acto do amor. Onde tinha feito seis filhos: mãos nas «cheleira», pés bem assentes na antepara, e o suave erguer ao céu da proa onde se estendia em espera sôfrega, faziam toda a diferença.....Sabe amigo ,dizia-me marota: agora as fidalgotas chamam-lhe queques.(ou parecido),nós chamávamos -lhe: avia-te!!!..
...alinhados (fotoAML)
A regata custava 500 a 800 contos!!!. Que
importa? A « arquitectura económico -financeira, dada ao CVCN, permitia isso, e
muito…muito mais….Hoje prefere-se ir aos Bancos, para as despesas
corrente!!!!!!. Depois queixem-se…..
Voltando às Regatas :
Chegámos a um grau de relação tão próxima que as gentes
da Murtosa, da Torreira, das Quintas(a quem rendíamos presença, nas suas
regatas, como nosso moliceiro « O Ilhavense») que eles nos tinham(e têm), como
os amigos da Costa-Nova.E respeito pelos nossos Arrais. (João Senos e Pedro
Paião) aquém foram desvendando todos os segredos dessa obra prima lagunar: O Moliceiro.
Recordo pois, sem saudades, mas
apenas com o sentimento de uma enorme experiência vivida
e com a sensação de um desafio, cumprido.
Mas voltaremos ao CVCN.
SF
Nota; para o êxito destes eventos, foram fundamentais, o saudoso Daniel, e a directora TC.
Nota; para o êxito destes eventos, foram fundamentais, o saudoso Daniel, e a directora TC.
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