domingo, junho 26, 2022

 


 A OBRA DA CRIANÇA 



A vida tem sempre surpresas.

Porque precisei de fazer,aqui na casa da Costa Nova ,uma reparação urgente, no telhado,pedi a amigo informação sobre possíveis firmas que a poderiam executar. Foi-me, assim, fornecido um número de telm,, que de imediato tentei. Logo que comecei a explicar o que queria ,ouvi surpreendido ,uma resposta pronta.

-Então não vou? Vou já Sr eng.O senhor não se lembra de mim ,mas vai lembrar-se. 

Pela tarde vejo sair de uma carrinha uma cara que logo me pareceu identificar. Não me era desconhecida.Muito mais depressa a identificou o João. Foi uma festa,os dois.

Era um rapagão de uns bons cinquenta e tais que, logo me diz: 

– Então não se lembra de mim da Obra da Criança ,da  sua irmã,D. Maria José?

Pronto.... recordei logo....

Depois de ajustar com ele o que fazer, prontamente me desafiou :vamos lá beber  uma cervejinha. Claro que bebemos. E até levou mais...para o caminho.

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Mais tarde fiquei só ,a lembrar o nascimento da Obra da Criança

Foi assim:

Em certo Natal ,tinha-me sido pedido ,pela minha Mãe, para levar um “cabaz” à Obra do Frei Gil (Ermida).A Zeca pediu-me para  a levar.  Chegados ao pátio, quando eu entregava os “bacalhaus e o resto”, a Zeca chama-me a atenção para uns gemidos que se faziam  ouvir. E fomos em procura dos mesmos. Demos com um miúdo deitado de bôrco ,na palha da abegoaria, com as costas todas vergastadas. Foi o fim....

A Zeca levantou-o e disse-me decididamente, sem ligar aos que tomavam conta(?) dos rapazitos:

Vamos levá-lo a Vagos ,ao Dr Frederico. E lá  fomos de imediato. Os funcionários do Frei Gil tiveram o bem senso de ficarem mudos ,especados, a olharem para nós....

Tratado o miúdo regressámos .A Zeca  de mão em riste,fez um aviso:

– Amanhã vou falar com o Frei Gil. Ai se alguém mais toca nos miúdos. Depois ajustamos contas.

E ao outro dia confronta o Frei Gil. E decide obter o seu acordo

-Vou levar os miúdos para Ílhavo,ao que prontamente o Frei Gil ,acorda. (como e porquê ,tão rapidamente, nunca soube, mas advinho....)

Mas para onde?


Aí entra a pressão sobre minha Mãe, esta sobre o meu Pai que, com o Cap Zé Vaz ,usam o amigo Zé Capote ,casado com a Sr Piedade, que é herdeira com o seu irmão Jaime de uma excelente casa de lavoura ,ao Cruzeiro, pedindo para cederem a mesma.

Casa boa, de excelente lavoura mas, claro, a precisar de  muita obra. Que logo foi idealizada. Dinheiro para a tornar aceitável? : os peditórios continuados aos fins de semana, batendo porta a porta ,por ílhavo e arredores. Nestes eu ia acompanhando o Cap Zé Vaz,o Sr Celestino e até o Américo Ribeiro. O Cap Zé Vaz tinha um jeitão para estender o saco; o Sr. Américo Ribeiro ,desavergonhado “ não pedia”: impunha!...

As obras logo começaram. Outros miúdos começaram a ser acolhidos. Nesta fase o Capitão e o Sr José Celestino foram incansáveis.

No espírito da Zeca logo começou a medrar a ideia de “coisa” muito maior. O contacto com a Igreja, na pessoa do Padre Urbino,até correu bem.A Igreja era apenas. chamada  para dar cobertura, claro. A Zeca a andar, qual buldózer,sempre para a frente,imparável. E assim nasceram   as actuais  instalações da Obra, com novas edificações, ainda hoje ,creio, razoáveis. Naquele tempo excelentes.

Infelizmente( ou talvez não, porque se fosse outro o destino, o CASCI não teria nascido) as relações com o P. Urbino começaram a complicar-se. A Zeca decide bater com a porta.

É então que germina nela, a ideia de uma Obra muito mais abrangente. E assim  nasce o CASCI. Instituição com os seus sócios aderentes, mas que,inicialmente não prescindiu dos peditórios. Do  nada nasce  aquela Instituição de referência, que chegou a ser,no global, uma das  maiores Obras Sociais do País. 

Foi um nunca mais tirar o pé do acelerador. Foi consumir inteiramente uma vida, num único desígnio.

Excessivo querer? Talvez...


Senos da Fonseca



1 comentário:

José Paulo disse...

Um grupo de jovens colaborou algumas vezes nessa altura na Obra da Criança, quer ajudando na construção de alguns compartimentos, quer em colónias de férias com os miúdos da obra na Vagueira e na Costa Nova, quer ainda organizando e participando em espetáculos para angariação de fundos. Ainda hoje admiro como foi possível cativar um grupo de jovens da altura para participar. Recordo também a participação de jovens estrangeiros de várias nacionalidades - Companheiros Construtores, que passavam temporadas em Ilhavo para colaborar na Obra da Criança.

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