VINHO NOVO VERSUS VINHO VELHO
Coisas talvez sem importância para o leitor, mas que me acodem frequentemente ao espírito, são os inolvidáveis momentos passados com meu Pai, camarada de eleição, cúmplice de mil e uma aventuras - foram tantas… tantas.! - numa vivência onde tudo servia para reforçar a aprendizagem do saber que se transmite, e que fizeram de mim homem.Estranhava eu que, meu Pai, um apreciador nato de vinho, com clara e inequívoca queda para um sábio saber de o bem apreciar, desse a sua preferência aos VINHOS NOVOS. Eu na altura elogiava o contrário, e dava comigo a explicar as virtudes de uns e de outros, aos amigos, que confiavam em mim para a escolha do vinho que anualmente engarrafávamos.--------------------------------------------------------------------------------Hoje, depois de ter apreciado de todas as qualidades um pouco, julgo poder fazer um balanço, ou até ser opinativo, a aconselhar. Apesar de, desde os trinta anos me ter sido proibido de o degustar, desobedeci às ordens e levei - por vezes em excesso (relativo, entenda-se) o copo à boca, ou vice versa.--------------------------------------------------------------------------------Um VINHO NOVO, é alegre, presta-se a rápidos contactos, exala aromas de um modo muito ténue, e comporta-se com um desejo e pretensão de afirmação, que cativam. Pode ser servido sem requintes do corpete que o atavia : picheira, garrafa, ou até aparado do esguicho, retirado o espiche.Um VINHO VELHO é sereno, com perfume próprio intenso, muito mais macio aos pontos gustativos do apreciador, exigindo um body bem adaptado para lhe fazer sobressair as (suas ) virtudes, às vezes em inicio de desvanecimento.Um VINHO NOVO pode ser mal tratado, em voltas sobre voltas, empinanços vistosos, quase posto em shaker, que se não amofina. Aguenta caprichosamente e galhardamente, e até acompanha os volteios sucessivosAo contrário um VINHO VELHO, deve ser tratado com todo o jeito, suporta mal movimentos bruscos da mão ao levá-lo à boca, pelo que deve ser sorvido em movimentação doce e subtil, levada a cabo com extrema delicadeza, mas e também subtileza.O VINHO NOVO tem por vezes, ainda com ele, sabores esquisitos de tanino ; deve, no caso, permitir-se uma boa ventilação, um entretenimento para que repouse no copo e os mesmos se esvaiam. Com jeito, suportando a impaciência, desvanecer-se-ão rapidamente.Um VINHO NOVO pode beber-se de um só gole ; escorropichado, com sofreguidão, apetecendo no final da degustação, se ele não é novo demais, gritar um satisfeito:- Olé!......Um VINHO VELHO, ao contrário, deve ser sorvido, gole a gole, de um modo suave, deixando espaço entre os goles, para que ele se entretenha a saltar da língua para o palato, para assim se lhe retirar toda a grandiosidade do seu encorpado e licoroso, rubi. No final merecendo um sussurrado :- wonderful. Porque nisto de idade conta o requinte da língua.Um VINHO NOVO suporta melhor o acompanhamento de qualquer carne, desde que não seja muito gorda. Diz bem com saladas, misturas de várias qualidades, desde que frescas e tenras.Um VINHO VELHO adapta-se a carnes secas, não muito duras, mas também a carnes suculentas, desde que contida a sua gordura em limites aceitáveis e tolerados.Um VINHO NOVO corre forte perigo de «marteladas» que lhe retiram frescura e vivacidade. Depois, é mais martelada menos martelada, que nem se dá por tal ser o vinho que já foi, ou podia vir a ser.Um VINHO VELHO pode já ter dado a volta. Cuidado. Aí não há nada a fazer. Para o saber, deve se lhe tirar,cheirando-a por baixo. Pelo olfacto, saberás de imediato, se podes provar ou se não vale a pena o esforço do toque.Um VINHO NOVO, pode dar azias terríveis ; incómodas. De tirar o sono.O VINHO VELHO raramente o faz ; mas é sempre bom não abusar.Em resumo :Só se pode apreciar um vinho, comparando-o.Assim, mesmo que habitualmente só beba «Barca Velha», deverá uma vez por outra, provar diferente. Saberá se continua a beber o melhor - para se poder babar junto dos amigos - ou se há novas marcas, que justificam, elas também, meter o saca-rolhas.Em toda e qualquer altura, um Homem que se preze, e que saiba da poda, deve estar sempre pronto - e disposto - a provar do que quer que seja : desde que de boa qualidade.Todo o bom apreciador não poderá dizer, pois , em consciência e em definitivo, se um VINHO VELHO é melhor do que um VINHO NOVO, ou vice versa. Dirá que ambos são bons, se forem de boa qualidade.Por isso nunca se deve dizer que deste vinho nunca bebereiSf
Nota: qualquer interpretação deste texto, num outro sentido, é da inteira responsabilidade do leitor.
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