quinta-feira, outubro 30, 2008

A Escola de Francisco Meneses…

Recebi, e mesmo ontem li «A Minha Escola», um curioso opúsculo em que Francisco Meneses(Dr) faz uma análise detalhada á «Escola Em Que Exerceu», que não sendo a «Escola Que Desejava» lhe motivou uma explicitação do que julga dever ser a tal escola para a qual o aluno apenas levaria (para lá) a mente motivada para aprender…e pouco mais, como nos diz F.M.

O olhar de F.M. sobre a Escola Portuguesa é pois muito crítico; olhar de alguém desencantado, senão magoado com aquilo, onde pouco se aproveita: os alunos são maus – civicamente mal preparadas em casa -, indisciplinados, e nem os professores que olham para o lado fazendo de conta, escapam ao azedo comentário de F.M., ao ser-lhes atribuída parte da responsabilidade por essa indisciplina, embora afirme que a Escola e o Professor se confundem para o bem ou para o mal, num só. Não é esta unidade que F.M. julga ser a ideal…

Mas as culpas deste estado caótico - que parece irrecuperável-, é fortemente consequência de uns tantos inteligentes que apareceram por ai ao longo dos anos a vender – assim mesmo! - Teorias Educativas a torto e direito, acomodando clientelas amigas. Pena que FM não inclua – ou passe adiante – de que nesta cambada estão incluídos aqueles que há trinta anos – sempre os mesmos – ocupam as cadeiras sindicais, apenas e só pugnando pela mediocridade e pelos tostões. Mais nada! Borrifando-se para a qualidade de ensino, coisa de que nunca mais ouviram ou - quereram ouvir - falar.

E de apreciação em apreciação – negativa, pois outra não poderia ser, tal o caos a que chegámos – eis-nos confrontados com a ESCOLA proposta por F.M.
É curiosa – e claro discutível – a proposta. Pena até que tal tipo de reflexão, não faça parte do curriculum obrigatório de todo o Professor no activo, fornecendo achega e propostas para serem eles (os Professores) os sujeitos da Escola, e não apenas os executantes revoltados de tantas incongruências vindas de cima.
A Escola de FM, onde em ultima análise os professores seriam respeitados – questão básica, mas não única –para o que teriam de provar que tinham conhecimentos científicos - e não mais, perguntamos, nós?.) para exercer a profissão. Todos estaremos de acordo que tal proposta é evidente. Já não estaremos todos de acordo, certamente, é com a proposição de na Escola de FM- em áreas específicas - não existir a dicotomia aprovação/reprovação, pois ao contrário consideramos fundamental que os miúdo passem desde cedo (logo mesmo no básico) a perceber que há objectivos a cumprir e que tem de se trabalhar para os atingir.
A Escola de FM teria de ter muitos e diversificados Auxiliares de Educação (não confundir com contínuos), e claro ter condições físicas para os albergar em situação estimulante quanto à produtividade do seu trabalho. Até aqui parece-me unânime a concordância.
Mas onde FM salta as barreiras do consenso é na proposta do curriculum para a sua Escola. Que se dividiria por três áreas:« área das educações» (ed.fisica, ed. tecnológica, ed. musical, ed. visual etc.) em que haveria apenas uma intervenção prática dos alunos) sem qualquer sujeição a avaliação; a «área dos saberes» (estudo do Meio, História, e Ciências da Natureza) sujeita ao procedimento normal de avaliação, feito de uma maneira encadeada e articulada; e finalmente a « área das competências», (Português e Matemática -e a Física não?! -) onde os alunos iriam ter um ensino / aprendizagem individualizado, conforme as suas capacidades. Assim se o aluno tivesse um dom (?!) em determinada cadeira desta área, poderia dar anualmente saltos quantitativos e qualitativos, não necessitando de esperar (penar) pelos restantes colegas. Esta é a proposta talvez mais polémica de F.M.,a merecer contudo debate.
FM, não nos explica a razão desta diferença qualitativa e quantitativa, destas disciplinas, que justifiquem métodos didácticos e pedagógicos ímpares, altamente complexos de gerir
(o exemplo dado por FM- o saber-se a raiz quadrada só por si, coisa banal como a multiplicação ou divisão porque haveria de atirar com um aluno para uma turma lá muito mais para a frente, sem estar sujeito ao normal encadeamento da matéria?).
Pois bem: há matéria para reflectir. Fez bem FM, em pensar e dar a sua opinião, muito valorizada por uma experiência de vinte anos de exercício de uma profissão que dantes era bonita, e agora parece ser um martírio. Talvez tardio o depoimento. Mas vale sempre a pena…
Gostámos do que lemos, para lá de ideias com que nem sempre concordamos. E ainda bem. A Escola é um reflexo da sociedade envolvente. Não pode haver Escola boa onde a sociedade está em perda acelerada de valores. Onde em nome de uma democracia de massas -quantos nela falam e tão poucos nela convivem – se consente uma avassaladora falta de responsabilização dos diversos agentes que a moldam: pais, família, professores, políticos, cidadãos.
Não há autoridade: nem moral, nem profissional, nem intelectual. Chamem-lhe o que quiserem, disfarcem o pudor, mas o que é verdade é que nos demitimos de saber ter autoridade no exercício de cada cargo que ocupamos. Não é só na Escola. Baralhamos e tornamos a dar. Nunca partimos…
Repara FM: porque é que recuperada a dita autoridade na Escola Privada (por consentimento tácito dos encarregados de educação) os resultados são bem diferentes, com o mesmo tipo de exigência curriculares?
FM até, em mero exercício académico poderia resolver algumas das questões que hoje são patentes na Escola Portuguesa. Mas não explica como isso poderia acontecer se anteriormente não se tiver mudado a sociedade. Eu sei ..eu sei …A Instrução conduz à Educação.

A questão é a do ovo :- qual nasce primeiro…
No final e em resumo :leitura obrigatória.
Senos Fonseca

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