quinta-feira, janeiro 13, 2011

                                                            CANTO V




O Sr. Bloom tinha viajado pela Europa, antes de iniciar a sua partida para a Índia. Assim o tinham feito os emissários de D.Manuel I.Para vender divida pública junto dos Estados Soberanos, a arranjar painço para a frota. Espanha era um temível concorrente nessa arrecadação, pois assegurava conhecer outros caminhos mais curtos, para atingir o seu fim.Por isso a sua divida em dobrões de ouro era astronómica.

O Sr. Bloom chegara a Munique, vindo de Roma.E enquanto bebia uma cerveja na Hofbräuhaus de Munique (ir a Munique e não ir á Hofbrauhaus, é maior crime que ir a Roma e não ver o Papa). O que,claro,o Sr. Bloom cumprira. Mas o Papa já não era o Papa de antigamente.Assombrado de pecadilhos, e com divida soberana que chega para todo o BCE.Conclue o Sr Bloom :-mas se todos devem a todos,então o problema é de um deles, ou do bloco europeu? E não seria por aqui que se deveria começar a resolver o problema?-pensa o Sr Bloom.E conclue : o que falta é crença.Um País sem crença afunda-se, e não logra o Cabo.

E enquanto no centro da Hofbrauhaus uma heavy metal incitava o trinkt mer,eis que  no enorme ecrã de Televisão apareceu a Rainha Merkel, senhora toda-poderosa do reino. De imediato, silêncio. Que os alemães continuam na mesma: chefes não se discutem ; escutam-se. Espantado Bloom sorriu de satisfação com aquilo que aos seus ouvidos parecia música celestial.E porque não dizer orgulho! -ao ouvir as referências mais que elogiosas da senhora, comentando apreciativamente a certeza das acções levadas a cabo por Portugal para vencer a batalha do euro.Afinal em Portugal há «alguém» com uma crença valorosa,exemplar, que deve ser seguida:- afirma a chanceller. Convincente, apropriadas e objectivas palavras, ouviu o Sr. Bloom.
 A operação de vendas de títulos saldou-se por uma compra três vezes superior à procura. Blomm empertigou-se, ergueu a caneca dourada,e brindou ao seu País.

Mas eis que de repente o Sr. Bloom estremeceu. Arrotou,vernaculamente falando.Não percebeu se teria sido pelo excesso de cerveja emborcada, mas o certo é que o Sr. Bloom, ouviu,logo de seguida em contra ponto,mas não sem espanto, o Rei do Cavaquistão português, afirmar que a crise social, financeira e politica, está à vista. E certo da sua experiência,diz, soçobraremos no Cabo da boa esperança  socrática. A não ser que embarquemos pilotos do FMI, para por em ordem a tripulação amotinada.
E logo de seguida, o senhor Bloom pensando que a cerveja lhe teria subido à cabeça, e se se levantasse cairia de borco, ouviu o candidato a novo chanceler português, o senhor dos Passos, dizer: venha o FMI, porque se vier, Sócrates tem de ir embora.
 Ah! - percebeu finalmente o Sr. Bloom: o problema não é o País, nem os problemas dos portugueses. O problema é a ambição pessoal. Os homens querem sempre começar pelo final. Lá fora a pedirem água ;cá dentro, bem ao contrário, a pedirem fogo. Se os pássaros existisem aqui, já teriam perdido toda a capacidade de chilrear ,pensava o Sr.Blomm.

O Sr. Bloom pensou com os seus botões: quem tem amigos destes, nem precisa de inimigos.

E pensando no facto de termos ido à Índia sem pedir ajuda a ninguém, antes pelo contrário guardando segredo do feito – se aquilo que hoje se passa no seu País se passasse no tempo de esclarecido El rei João II, este bem saberia como tratar dos dislates destes inimigos públicos números um.

O Senhor Bloom pensou então : à entrada dos partidos políticos deveria estar um aviso :não entre aqui quem não for trafulha.

Bloom que ainda não é sábio -só o será depois de visitar a India- começa a entender que é verdade.O que hoje está do nosso lado direito, poderá, amanhã, estar do nosso lado esquerdo.O Mundo português está em decomposição.

Para a Índia e em força: - pensa Bloom.

SF

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