sábado, janeiro 08, 2011

E assim não vamos à Índia…..

O senhor Bloom (se ainda não leram, não percam G.Tavares) preparou-se para retomar os Lusíadas, e sem sair de cá, resolveu ir de novo à Índia. Viagem à Índia não saindo (para já ) do País.


Sentado em frente dos televisores, Bloom ouve o moribundo País ( a melhor maneira de saber a verdade é ouvir um moribundo, pensa Bloom…)


                                       Canto I


As armas e varões deste País, andam maluquinhos a discutir o sexo dos anjos – o BPN. Quem não aceitaria uma oferta de umas acções, com a promessa de, dobrado o Cabo, as ditas(boas ,embora filhas de más….) rendessem, seguro, mais 140%? Então D Manuel I não fez o mesmo? Para que servem os amigos?


Então onde está o umbigo do mundo? Para onde dirige o Homem – todo o mortal - o olhar glutão, os passos e o pensamento? Não é verdade, pensa Bloom, que se devem vigiar os homens que apregoam a santidade, falando manso? Quem acumula não escava.


Qual imortalidade, qual gaita, pensa Bloom : - todos os mortais, chegada a hora, são banais.


Money …Money…os homens são feitos de carne e osso. Ou quase….


                                   Canto II

Os poetas são uns distraídos: - pensa Bloom. Contam Infâncias ,Pátrias ,Liberdades.No essencial da língua. Como poderiam eles lembrarem-se do cheque? Os números não batem certo com melancolias necessárias para o poema. Cheque é numero…poema é sonho.

Erótico é no corpo da amada nunca encontrar uma saída, só entrada.

Na memória é o contrário. Esquecem – se as entradas e só se conhecem as más saídas.

Os poetas são fingidores, pensa Bloom. Camões também escreveu os Lusíadas para publicidade (encomendada) de um País. E por isso recebeu tença. Sem vergonha. Antes pedindo-a.

E devolveu a tença?


Os poetas, pensa Bloom, podem ser banais, mas não são estúpidos. Camões era ceguinho, mas só de um olho.


Allegro…ma non tropo






                                           Canto III


Já se viram homens a tentar serem inteligentes. Outros só a parecê-lo. Os economistas deste País, não só deviam sê-lo como parecê-lo, pensa Bloom.


Não são nem parecem. Não se ensina quem é sábio. Cá todos são sábios.


Bloom acabara de ouvir aquela economista tagarela do informativo Económico (pago e sustentado por quem?). A rapariga era uma sábia, pensava Bloom .


De repente perguntam-lhe: -como explica que afinal o investimento em Portugal tenha aumentado tanto em 2010,ao contrário do que previam?


Já viram mulheres com ramo de flores na mão esquerda a agarrarem – se ao marido com a direita, para não caírem?


-Pois. Pois …é inexplicável…


Inexplicável é a garganta existente num mudo, pensou Bloom.


E a outra pergunta: -como explica que os portugueses tenham gasto mais em Dezembro que em outro qualquer mês da história?


-Pois…pois: olhe eu tenho duas teorias (afinal não era muda…, pensa Bloom): - ou pensaram no fim do mundo que iria ser Janeiro …e gastaram tudo (sorriu-se como quem apanha uma martelada num dedo) …. Ou as Estatísticas deste País estão erradas.


Pois...pois …, pensa Bloom, então não é verdade que há aves que pousam nas asas dos aviões para se não cansarem? As intenções da ecónoma em ter resposta para tudo, eram louváveis...pois nela havia uma certeza: -falharemos o porto de destino (diz a douta).


Pois.pois…este Pais é um país de iluminados na certeza …(não há buraco para esconder os iluminados, por causa do fogo fátuo, pensa Bloom).


Certeza …certeza, essa teve-a o «iluminado» de Stº Comba, quando mandou:


-Para Angola, já!... e em força! E tudo .chiu...chiu...


Certeza,certa… tinha – a o iluminado de Boliqueime quando ordenou: -venha daí uma mala de acções (falidas), que eu transformo-as em ouro. Não… não era um vago juízo, era uma concreta certeza.Se a laranja estava ,ali ,á mão,porque se fazer rogado? Descasca-a enquanto os famintos loureiros a devoram.


Então pensa Bloom, será este Povo, de novo, capaz de se aproximar de sítios onde o desconforto exige acções raras, mas decisivas (Sócrates dixit)?


Esclareceu-se Bloom. O Povo deste País parece surdo quando se diz avança. Porque aos poderosos interessa é que se obedeça: - RECUA!.


Percebeu então, Bloom, porque os especuladores, estão tão agiotas.

SF –Jan 2011




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