sábado, janeiro 22, 2011


A ria e só nós, os dois









Quando já não tiveres lágrimas para verter


Vem à minha porta


Àquela casa pousada sobre a ria


Que não tem chaves, nem muros, nem segredos


Ou enredos.


É tua. Entra.


Guardadas estão lá todas as palavras


Que não disse, ou não soube dizer,


À ria.


E a Ti, tão grande era meu medo.










Colhe uma flor nesse jardim escondido


E nela percebe o que quis contar de mim


E não me atrevi, porque a mais ninguém ousaria


Desnudar a intensidade da paixão.


Descalça-te e vem comigo oferecer-lhe este verso


Vem comigo afundar os pés na areia molhada,


Anda vem comigo,


De mãos dadas sentir a dádiva refrescante


Da sua maresia perfumada ;


Vem olhar o voo das gaivotas inquietas


Pelo lento marulhar da velha bateira.


Olhar o rosto enrugado de quem lá vem a contar histórias.


Aconchega-te ao meu ombro e fiquemos


Na noite a contar o verso, corpos em lume


A ouvir o vento levar o eco latente do nosso queixume.


Sou eu e tu à espera de ser o que nunca seremos…


A ria, e só nós, os dois….


JF (22.01.2011)

Sem comentários:

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...