A ria e só nós, os dois
Quando já não tiveres lágrimas para verter
Vem à minha porta
Àquela casa pousada sobre a ria
Que não tem chaves, nem muros, nem segredos
Ou enredos.
É tua. Entra.
Guardadas estão lá todas as palavras
Que não disse, ou não soube dizer,
À ria.
E a Ti, tão grande era meu medo.
Colhe uma flor nesse jardim escondido
E nela percebe o que quis contar de mim
E não me atrevi, porque a mais ninguém ousaria
Desnudar a intensidade da paixão.
Descalça-te e vem comigo oferecer-lhe este verso
Vem comigo afundar os pés na areia molhada,
Anda vem comigo,
De mãos dadas sentir a dádiva refrescante
Da sua maresia perfumada ;
Vem olhar o voo das gaivotas inquietas
Pelo lento marulhar da velha bateira.
Olhar o rosto enrugado de quem lá vem a contar histórias.
Aconchega-te ao meu ombro e fiquemos
Na noite a contar o verso, corpos em lume
A ouvir o vento levar o eco latente do nosso queixume.
Sou eu e tu à espera de ser o que nunca seremos…
A ria, e só nós, os dois….
JF (22.01.2011)
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