terça-feira, março 06, 2012




Prémio

Não sei porque raio é que nunca fiquei á janela, postado em sossego, a ver a vida passar.
Imaginar que essa postura me daria o prazer de, sossegadamente, ver os outros bulirem, de manhã ao crepúsculo da noite…e eu  distanciado desse desassossego.
Não….
 Não queria ser ninguém do que não fui. Que fique claro. Quis ser, um permanente desconforto, um desassossegado e inconformado ser. Comigo e com os outros. Cada presente, cada degrau da vida, deu-me sempre uma dolorosa sensação de derrota a ultrapassar.«Chego», e logo dou por mim a desejar fazer outra coisa. Discuto comigo como não seria capaz de discutir com um inimigo. Desalento-me propositadamente, só com a intenção de me provocar uma reacção para tentar de novo.  
Por tudo isto olho com uma certa distância e até displicência para os bem  intencionados que olham, sem perceber, afinal, o que sou(ou fui). Pois se nem eu sei o que desejaria ser – sabendo apenas o que não queria ser – como poderiam os outros saber o que fui em cada «reincarnação» do mesmo individuo. Fui um nómada da vida a procurar um moirão onde me ancorasse definitivamente. Não o enxerguei…e por isso reiniciei por várias vezes a navegação.
Ah!... se eu pudesse aqui ver realizados todos os meus sonhos para ver se então pararia de sonhar . Ficava a  desconhecer-me,  mais perto de mim, que os outros. A maioria da gente é outra gente (OW)
Na vida não há prémios nem derrotas. Há intervalos. Os insultos (ou os elogios) que nos infligem (ou oferecem),não devem ser capazes de furar a nossa carapaça : os  primeiros a da indiferença. Os segundos,a da (nossa) consciência de que serão sempre, nem de todo, merecidos.  
SF ( 2012)

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