Arquivador de momentos
Não há duvida que chegados à velhice (não sei porque se lhe quer chamar idade sénior…) somos, diariamente, confrontados com a necessidade de ir buscar toda uma boa dose de fortaleza (coragem?!) para ir suportando os sinais evidentes com que ela se manifesta.
Este tipo de coragem (se assim quiserem) é bem diferente daquela de que tivemos de fazer uso, quando ao longo da vida defrontámos momentos assustadores (borrascas que sabíamos passariam breve).Depois …? Bem depois era só largar pano, ajustar o rumo e partir de novo.
Agora, neste fim de viagem, o que me faz temer, é a possibilidade de me faltar coragem para o ultimo acto. O que seria uma pena.
Por enquanto vou-me iludindo a cada decepção que interiorizo. Verdade é que dantes a desilusão trazia consigo amargura a juntar-se ao desapontamento. Agora, cada desilusão traz-me apenas a vontade de ser um céptico estoico.
Ser novo implica não ter tempo para perder a esperança. Ser velho implica ser um arquivador de momentos que já só são importantes para nós mesmo.
Milagre da Vida
Gosto de vir a correr dar um salto à Costa-Nova e fortalecer-me. É incrível como só aqui me sinto seguro. E mais: ganho a certeza da minha (re) orientação.
Aqui sei perfeitamente sem necessidade de agulha, o Norte (e até as quartas ….).
A ria (mais do que o mar) continua a fascinar-me – e a pasmar-me! E todos os horizontes que enxergo parecem recrear a minha imaginação. Quase direi que não consigo imaginar nada fora de mim, sem abrir os olhos e enchê-los daquela paisagem que me desafia o reavivar do sonho. Mas e também das perguntas inquietantes para as quais continuo a não encontrar resposta.
Milagre da vida? Para uns será.
Para mim o milagre só aparece quando um poeta bate de mansinho à porta, que logo escancaro, entra e reincarna (por breves momentos) neste tosco e enfezado escriba. E então parece que sucede o milagre de me merecer.
Não se é poeta. Acontece….Por breves momentos
SF
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