VALDEMAR AVEIRO e os seus murmúrios
Já o tinha referido: na passada
tarde de dia 10 fui à LELLO, monumento de uma beleza perturbante, carregadinha
no seu porão de tudo quanto, de escrita, se publica neste País, onde um autor
faz o possível e os impossíveis para se ver na frontaria do livro esparramado
na montra…
Escrever….escrever….sem nunca
mostrarmos verdadeiramente quem fomos e o que somos. Porque a verdade é que o
que fazemos ou dizemos, é apenas uma parte de nós.
Ora eu fui assistir à apresentação
do livro com que o meu amigo Valdemar Aveiro, encerra (por ora) a sua trilogia
sobre a pesca do fiel amigo, não já no capítulo da Faina Maior (título soberanamente
copiado do «Grand Métier», francês) mas na Faina Menor, onde curiosamente, aqui
sim, o Capitão era o maior, o único.
Não sei porque Valdemar (ou alguém
por Ele) escolheu o título poético «Murmúrios do Vento».
Basta ir à página 121 e ler:
Quando ao vento, insensível ao estratagema, bufava iracundo (…) rasgava
em pedaços as velas, partia mastaréus…
Ou
O primeiro, de humores muito
variáveis, passava de uma postura pachorrenta, de calma podre, a um ciclone medonho…
Não; não há naquela vida que o Valdemar
nos consegue contar de um modo leve, misturando para isso a dureza com as
saborosas estórias do rancho, como que a dizer-nos… «bem a vida era assim, mas
aquela gente tinha coração, alma, e até…sabia rir….». Um homem não é de pau. E
por isso «as garinas» aparecem e desaparecem, mas curiosamente, sempre
respeitosamente, cumprindo a sua missão.
Na pesca não há lugar para eflúvios
poéticos. Aquilo é para quem deixa a
poesia em interlúdio, página marcada, à espera de voltar à paz quente da
lareira familiar, que Valdemar sempre teve nos intervalos da rudeza descabelada
daquela vida.
A maneira privilegiada com que Valdemar
recria as relações humanas, que promove até ao cuidado extremo de distinguir o
lugar do «camião cisterna» a que por matreiro interesse senta à sua direita,
permite perceber como teria de ser um excelente e matreiro pescador. Valdemar só nunca ofereceu um vintage ao bacalhau, para melhor o enloilar, foi porque o ganídeo é
comprovadamente alérgico ao dito. Senão…
O Dr. Aguiar foi de novo o
apresentador. E fê-lo bem, de um modo inteligente, capaz de captar a atenção
aos presentes (o actor não é o apresentador…): foi buscar ajuda ao Arq. Paradela,
para partilhar a sensação de que este livro é mais do que lá está. É uma
partilha de quem, (talvez abusando da
primeira pessoa – o Valdemar é isso mesmo!, todos o sabemos!), no momento próprio, divide com «os seus rapazes» a vitória, que foi a sua vida profissional.
O Valdemar é um mão cheia de
virtudes (e uma das principais características, é a soberana atitude de pedir
para os que precisam).
Claro que alguns gostam de lhe catar um ou outro
defeito. Pudera!!!!! A vida do Valdemar
era um campeonato: havia os bons, os assim-assim, e os «trutas».
Por estes se aferia o que os outros faziam. Valdemar expressa despudoradamente nos seus livros – mas
era assim mesmo – com que grupo (fechado) de capitães pescadores mantinha «a
ratice» de brincar ao gato e ao rato.
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