domingo, outubro 06, 2013



   Ouves o mar a chamar por nós?

Fui passear à noite ao mar. Fui só para cumprir um ritual, pois parece mal, estar aqui há sete meses, e nunca me ter apetecido ir ao mar.

Vai-se ao mar, creio eu, olhando o passado, quando a vida é alegre e despreocupada.

Certo que em novo, fui dezenas de vezes, à noite, acompanhado (bem acompanhado!) ao mar. Estranhamente parecia que o som das ondas, à noite, tinha o seu quê de toque estranho. Parece que nós próprios, nos tornávamos diferentes ao ouvi-lo.

Parece naquele som vago da onda que rebenta e nos envolve, se resume a quantidade de esperanças que ganhamos ou perdemos.

Quando no mar a onda rebenta contra a areia, fica um longo sussurro (choro) que se prolonga, audível, pela noite fora.

Ontem pareceu que a vida tinha parado. Oh! que sentido de leveza. Coração e vida parados, vagueei no sonho, arremessei, desenhei formas e palavras, regressando àquelas brincadeiras de garotos, em que escrevíamos na areia:

 – AMO-TE (como se existisse de verdade, e em verdade, o amor).

Ou mais simplesmente se desenhavam dois corações dilacerados por impiedosa seta (unificadora na glória da ….). Todos aqueles símbolos (oi!!!!, tantos…tantos ….) eram uma expressão de sentir ou querer, logo – sei lá se felizmente apagados pela onda seguinte. Claro: a vida a apagar, nós a teimar, na afirmação. Quem sabe nessa idade o que pensa ou até o que deseja (fora do natural e humano desejo (?!).

A verdade era  que

aquela música sensual  ouvida, ritmada, com  a vaga a enrolar na areia da praia parada, parecia ser uma ordem para que os corpos se alinhassem ao comprido, e cumprissem a razão da sua diferença.

 
Amei muito ao som da música (enlevo do mar).Quando disso me recordo, não choro!....de saudade.  Ergo uma taça, brindo, e repito:
 
                                   Oh!  tempo bendito
                                    Tempo infantil;
                                    De duna em duna
                                    A sussurrar-te ao ouvido:
                                    Ouves o mar a chamar por nós?
 
 
                                     E a duna foi a nossa cama florida
                                     O doce colchão do nosso amor
                                     Em festa….de vida nua,
                                     No pulsar aflito sob a paz que vinha
                                     Do céu…
                                     E do mar, que a areia de branco
                                                                                   [debrua.
SF. Outubro 2013

 
 
 

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