quinta-feira, janeiro 22, 2015


 

A Todos os que …

Muitos foram os que, lendo na rede o óbito de mais um ano de vida, que não o óbito do personagem, tiveram a pachorrenta, mas por mim louvada paciência, de me felicitar por mais este ano ganho à magana.

Esta coisa da vida é uma série de batalhas.Em que os mais sortudos vão ganhando (e festejando o facto),com a certeza, porém, de que perderão a guerra.

Cruzei-me hoje com pessoas conhecidas, umas, outras amigas.

Um deste, amavelmente a ver se me convencia disse:

-Parabéns…e está muito bom

-Por fora rematei, eu…porque por dentro pareço uma vaca parida em deserto. Terrivelmente só.

Envelhecer (e não faço disso uma tragédia) provoca-me uns certos medos. De perder a racionalidade (excessiva!) que sempre tive, e perder  a certeza de que não andei a vida a plantar  boas ideia em areal seco.

Duas ideias me preocupam, no entardecer. Vejo muitos da minha idade-olhem o  Lobo Antunes!- a recuarem, a sofrerem de um renascido nacionalismo, e até de reencontro com a religião.

Aviso desde logo: tenho as contas saldadas com um e com a outra. Se um dia me virem ou ouvirem dizer o contrário, perdoem….já não sou eu.Ponto final.

Não confundo (ainda!) nacionalismo com vaidade patriótica. Detesto nacionalismos serôdios. Ou até perigosos. Gostaria de pensar que a Pátria ( hoje vendida ao desbarato) se negará ,como eu, ao embrulho num caixão. Eu posso ir, mas Ela ficará. E com Ela  ficarão os de boa vontade, que expulsarão os vendilhões   dos dedos (porque os anéis, esses(!) já se foram).

Com a religião ( de todas) fujo….Fujo sem renegar os bons princípios que colhi e respeitei. Não na catequese, mas na exegese paterna. Mas objectivamente, racionalmente, não preciso de deusificação de coisa nenhuma, para perceber que estou por aqui, sem intervenção divina de qualquer tipo. Entregue a mim mesmo. Mas no pleno respeito pelos que assim não pensam.

E assim.: sempre soube desde muito cedo que o querer ser eu –a meu modo e jeito –tinha o seu custo. Sorte foi, que esse custo fosse encarado como um laudo jantar de que nunca me senti enjoado.  

E por isso gostaria de agradecer pessoalmente, a todos que se esforçaram por me convencer, que trocar mais um ano a voltas à vida, merece parabéns. Convenceram-me a  a atiçar  a brasa ,por mais um tempo, aqui, em frente a esta natureza prodigiosa que me arrebata os sentidos, a mudar a cor, a cada cor com que os olho.

J e ne regrette rien… de tout ( e bebo à Vossa)

SF

 

 

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