Amigos:
Não tenho qualquer tipo de religião. Tenho, do
exercício das mesmas, razão profunda de
afastamento por me lembrar que as maiores atrocidades sobre o indefeso humanoide,
foram sempre( ou quase sempre...) levadas a cabo evocando falsos credos e equívocos deuses.
Por isso a Páscoa, pouco
o nada me diz.Muito embora respeite todos os que assim não pensam. Neste dia,
sexta feira, meu Pai comia só (e nada...nada mais...) que um rabo de sardinha
salgada. Eu, por educação(e sem saber porquê), respeito a tradição. E hoje
vi-me grego para encontrar as sardinhas (péssimas...diga-se...).
Foi um dia massacrante para mim. Não
vesti o sudário para com ele amenizar as penas que a vida me trouxe. Não..não
me queixo: pois se a vida assim procede comigo, eu também a enganei muitas
vezes. Estamos pois, quites...
Mas agora (nesta noite) sobraçando
a ria no meu paraíso-acreditem oh! incrédulos!,
em boa verdade vos digo que o dito existe- fui ali ao terraço, encher-me dela .E libertar-me.
Uma penetrante, acre e doce,
intensa mas esquiva, maresia, chega-me brotando com uma intensidade que me resgata, como individuo ,do pesadelo da
memória colectiva que hoje é este País. Esta minha obstinação em disfrutar esta
maravilhosa dádiva que me é oferecida, levanta-me alguns temores de ingratidão cósmica.
Esta obstinação cativa-me. E comove-me. Maravilha-me. Sinto que tenho - ou me foi concedida!- uma alma imensa
que não cabe dentro de mim, fisicamente.
Ao olhar a Lua lá nos meios
da abobada celeste, hoje um pouco enfarruscada, fujo em me perder no imbróglio desta imensidão que me
perturba. E pouso os olhos na paisagem lagunar. Pareço antever a madrugada, o nascer de novo dia, na
peregrina ideia de que o meu dia, seja, amanhã , bem melhor que o de
hoje.
Mas se não for, sigo em frente...
SF
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