quinta-feira, março 16, 2023

   





  Casa Sousa Pizarro (actual Drogaria Vizinho)

 

A mais célebre casa da história de Ílhavo, foi mandada construir por Sousa Pizarro, fidalgo, cavaleiro, homem de armas e feitos praticados, com lugar na corte, casado com D. Inês de Sousa Magalhães (filha mais nova de Cap. João Sousa Ribeiro) .Tiveram uma filha, D. Benedita, que irá casar com o Visconde de Almeidinha. A Viscondessa D. Benedita, foi a  figura  central da célebre história de bem fazer e grande  prática solidária, que ficou na história do burgo com o título - «O Chão dos Pobres».

A construção da casa é contemporânea à edificação da Igreja Matriz (como o é a casa que foi da Srª Salsa, em Cimo de Vila), tendo, aliás, traços que se assemelham aos da Igreja Matriz,  nas cimalhas,.O que poderá significar que o autor do projecto terá sido o mesmo.

Viria mais tarde a nascer nesta casa senhorial, essa figura ilustre de Ílhavo, o Conselheiro José Ferreira da Cunha, um homem probo, ornamento da magistratura pública, homem de carácter superior, acérrimo defensor da liberdade  e do direito de exprimir o pensamento, figura maior do historial de ilustres Ílhavo. E do  distrito.

A história deste edifício,já notável, não ficaria por aqui.

Em 1876 foi criada a sociedade de onde faziam parte, João Carlos Gomes, António Cândido Gomes, José Craveiro, José António Magalhães, Francisco Rocha, Bernardo Camarão (Kim Camarão) e Augusto Ferreira, que, sob projecto do eng. Tavares Lebre, constrói o primeiro teatro em Ílhavo, conhecido por «Teatro do Recreio Artístico».  Estreado em 6 de Maio de 1876, com a peça «Camões no Rocio», onde actuaram Eduardo Pereira, Rosa Gomes, João Barreto, com   música a cargo de João Carolla (que foi regente da «Filarmónica Ilhavense»). 




O teatro exibia como pano de cena uma excelente pintura representando Egas Moniz. Os parapeitos dos balcões, e tectos,eram decorados com  referências a dramaturgos e poetas ilustres, como Gil Vicente, Garrett, Bocage etc,e  hoje ,apesar do tempo, ainda  visíveis.




Dificuldades económicas levaram a que, no salão do Teatro entretanto desactivado, depois de introduzidos diversos melhoramentos, luxuosamente decorado, ali fosse instalado (1905) o «Clube dos Novos» (outro baluarte histórico de instituição sócio cultural ilhavense), requintadamente mobilado. Um ambiente «dandy», «chic», «d'époque», muito conseguido, onde os sofás tipo inglês vermelhos davam um ar de intimidade, servindo de pousio a uma nova geração irrequieta que sonhava já com novos tempos.

Mas como sempre, sempre as dificuldades acabaram por matar o sonho.E o “Clube dos Novos” irá diluir-se e desaparecer, em 1920. 

O edifício   é então comprado pelo empreendedor Sr. Vizinho, que nela abre um excelente e duradouro negócio de drogaria e materiais de construção,.Que lucrativo irá permitir  o seu desenvolvimento   e estender-se  à actividade cinematográfica. Desta deriva nascerá o salão Cinema do Alto Bandeira (anos 30), exibição do primeiro filme exibido na Costa Nova, no salão da Pensão Rafeiro, e, logo depois, construção do cine Bela-Vista (1939). Em Ílhavo, a Sociedade Vizinhos& Filhos  edificará o excelente, para o tempo, Cine Atlântico .

O negócio da Drogaria Vizinho na sua actividade pioneira, teve sempre a preocupação de preservar a traça, e até, as pinturas decorativas do antigo Teatro do Recreio Artístico.

Por isso urge salvar o que resta de um símbolo, referência identitária chave da cultura ilhavense, que  não era,então, comprada ao Kg, à trouxe mouxe, nos supermercados ínvios e obscuros das redes do negócio “cultural”,depois  servida em enlatados requentados. Naquele tempo uma milha era bastante...o farol da Barra funcionava aindaa petrol....A lâmpada tinha-se ido....E o certo é que não voltou....como se vê....


SF



 

 

 



2 comentários:

José Barreto disse...

Gostei. Trata-se aqui de um grande trabalho de pesquisa histórica.

José Barreto

Unknown disse...

Na minha opinião se há edificio em Ilhavo é este, não só pelo seu valor estético mas sobretudo pelo que representa.

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...