domingo, março 31, 2024


 


E assim vou « vivendo » esta Páscoa...deixando um conselho aos mais novos

Tu não questiones — é crime saber — o fim que para mim, que para ti
os deuses terão dado, ó Leucônoe, nem mesmo consultes
os números babilônicos. Quão melhor, o que quer que será, ser suportado!
Quer Júpiter te haja concedido muitos invernos, quer seja o último
o que agora quebra as tirrenas ondas contra as pedras,
sejas sábia, diluas os vinhos e, por ser breve a vida,
limites a longa esperança. Enquanto falamos, foge invejoso
o tempo: aproveita o dia, minimamente crédula no amanhã.

                                          Horácio. (Odes)

CARPE  DIEM versus  BEATUS ILLE

Aproveita hoje que amanhã....

A propósito do CARPE DIEM , à medida que as horas  silenciosas vão correndo, vou   discorrendo….

Creio que sempre que a vida nos prega uma partida, paramos e juramos: é agora. Com esta história da pandemia, parece  chegada a altura de procurar viver segundo Horácio, o poeta  venezino.

Viver segundo as regras do poeta, era viver na suprema virtude (perfeição )da vida.

Seguir Horácio –e muitos juraram segui-lo, e imitá-lo – tinha, entre  outros saberes ( virtudes) o  beatus ille, que seria o viver «afastado», num modo (propósito) contemplativo. Ora manda a verdade dizer que os nossos Árcades, cantavam esse viver. Só que, não muito longe do bulício (e prazeres) da cidade. Era o tal viver lá fora, cá dentro. Quando muito, cantavam as suas Odes nos jardins públicos, a paisagem citadina que imitava (?!) a «Arcádia» pastoril.

Por mim, também aderia (poeticamente) ao CARPE DIEM.

Só que prometi fazê-lo um ror de vezes, e voltei sempre ao mesmo. Tantas foram as vezes que jurei dizer palavras que afinal nunca disse; tantos foram os gestos ensaiados e logo fenecidos à nascença; tantos foram os sentimentos que guardei só para mim, quando os devia lançar ao vento e deixá-los ribombar por todos os cantos…A cada promessa ensaiada, logo voltava à estaca zero.

 Chego pois, à conclusão que, (já) não mudarei, embora o tenha prometido,.Agora, uma vez mais.

E  por isso continuarei a querer importar-me ;e continuarei a querer saber; e continuarei a aceitar sofrer. E continuarei a guardar a sete chaves muito dos meus sentimentos, que não contarei a ninguém. Que levarei comigo. Como levarei os gestos e as palavras, os sorrisos e as lágrimas.

E vou andando. Continuarei a deixar-me agir impulsionado por um qualquer sonho (mesmo que pequeno). Não tenho outro modo de me deixar existir. Parece que nunca aprendi. Ou não quis.

E discorro: os avisos e propósitos de Horácio ficaram registados nos compêndios literários. Morrem lá enterrados, bafientos. Utopia inalcançável..  


Senos da Fonseca


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