quarta-feira, setembro 19, 2007

AQUILINO RIBEIRO



O grupelho de monárquicos ,deveria querer dizer - sobre a ida dos restos de Aquilino Ribeiro para o Panteão -o mesmo que o Padre Gonçalves teria dito na despedida do jovem Aquilino,do colégio de Lamego (onde o seu comportamento era motivo de séria preocupação):

-Não és mau rapaz ,mas se não voltares, passa-se aqui bem sem ti!

Com uma diferença .
O grupelho habituado ao bom rapaz, que parece ser Sua Alteza, um D. Duarte imbecilizado a pensar que é «Rei» pelas vias urinárias dos seus anteriores , parece vislumbrar, no Aquilino, um terrorista carbonário,que por isso não merecia ser acolhido no altar da Pátria. Mas, parece, lhe não negar as virtudes de grande escritor .

Aquilino foi um grande da literatura portuguesa; um dos seus maiores. Indubitavelmente . Provavelmente, junto a Camilo ,o que maior léxico, reuniu e repôs ,no renascimento da escrita pátria.
Não (só) pela quantidade do mesmo, mas no modo como o integrou numa escrita criativa – arrevesada ou não – por onde perpassam figuras de uma beleza notável .Onde se destaca esse notável Malhadinhas ,adorável e excitante figura do almocreve ladino ,espirituoso ,sarcástico e refilão.

Eu sei …
Sei que hoje na escrita se prefere, a ideia à forma .Esta por vezes surge escanzelada ,despida, quase que nos impressionando ,como um morto vivo de Auschwitz nos penetra .Como figura humana ,que ainda parece ser, mas agonizante ,esquálida. .Eu não aprecio essa forma .Mas não lhe nego, defensores .

Continuo, porém, a sentir-me bem quando, volta e meia, regresso aos mestres :Aquilino , Torga , Camilo e Eça (etc),para me deliciar com os que se preocuparam com a beleza da forma ,escrita.

Aquilino, assombra-me ,por não ter sido , apenas –e já era muito !- um notável escritor .Mas pelo homem que foi; até mesmo, se quiserem, no seu pendor revolucionário, quando jovem andou perto dos regicidas .Aprecio-o , naquele modo de jamais joeirar fosse o que fosse; de varrer a testada a varapau, ou à bofetada ,como o fez nas bochechas do fradalhão de Viseu ;ou na rispidez com que tratou o «nosso» P. Manuel Ançã ,quando este o expulsou do seminário de Beja (ainda bem !..para as letras nacionais) .Admiro-o, quando opondo-se ferozmente a Salazar , sofreu o estigma do exílio.De onde voltou muito mais rico de saberes, mas a pensar o mesmo, como antes de ir, a escrever esse «Quando os Lobos Uivam»,livro que adquiri atrás do balcão ,proibido que estava pelo fradalhão de Stª.Comba .
Mas curioso : Salazar de ele disse, quando ordenou inquérito à PIDE

-“Comece o seu inquérito por Aquilino .É um inimigo do regime .Dir-lhe-à mal de mim ;mas não importa, é um grande escritor”

Tão grande que até Salazar lhe reconhecia a dimensão

Eu não sei se Aquilino gostaria desta andança das suas ossadas. Provavelmente apreciaria mais que corrigissem o crime de se não ver incluído nas selectas por aprendem(?!)os nossos jovens.

Ele sabia que não escrevia para o povo: porque este, dizia «não sabia ler e se soubesse não gastava dinheiro a comprar livros» .
Mas que diabo .o povo então era outro, e as necessidades muito maiores do que os dispensáveis livros.
Mas isso era no tempo da outra «Senhora»

Agora, fica mal ,a um País ,não mostrar um dos seus maiores.


Aladino

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