Ideologias Religiosas - um perigo explosivo
Foquei já aqui, no Blog anterior, a questão latente em várias camada protestantes de uma certa incompreensão, e até de adulteração, dos princípios defendidos pelo seu ideólogo Lutero, que entendia que a Igreja não precisava de nenhum poder terreno, devendo para isso esquecer-se do Papado e apoiar-se exclusivamente na fé em Cristo. Também neste credo logo no principio houve leituras díspares das intenções do seu chefe espiritual.
Logo em vida Lutero confrontou-se com a distorção ao seu pensamento e constatou a necessidade de se opor, primeiro aos nobres alemães que logo tentaram aproveitar-se da reforma para acrescentar poder às suas «casas senhoriais», desvinculando-se do poder de Roma. E foram a factos, formando exército, intentando assaltar o Bispado de Tréveris (1522).
Mais grave, foi, que a arraia-miúda campesina a partir de determinada altura, entendeu ler nas doutrinas de Lutero um incitamento à igualdade e à abolição da propriedade feudal. Para «ela» era chegada a hora de acabar com impostos, taxas, submissão à hierarquia religiosa, pretendendo para tal deixar à comunidade local o poder de eleger directamente o seu pastor.
E se Lutero se demarcou de imediato dos nobres, certo é que, inicialmente, mostrou alguma simpatia com os campesinos. Mas não demorou muito a perceber que Satã teria, como disse, entrado no seu rebanho. E logo se apartou dos revolucionários , combatendo todas as acções provocadas pela entrada do mafarrico que o obrigou a intervir, não apenas com os escritos mas com a acção pessoal dissuasora. Cristo não teve essa oportunidade e isso foi mau.
Sem o apoio de Lutero a revolta estava aniquilada. A ameaça do «anabaptismo» -proveniente de uma leitura da Bíblia ao pé da letra! -, que constituía o reduto radical revolucionário, acabou por se extinguir, não sem lutas sangrentas.
Estes breves apontamentos servem-me apenas para tentar fixar a ideia que sempre que o fenómeno religioso é utilizado na resolução de problemas sociais, transformado em ideologia, os confrontos sucedem-se e terminam por lutas de uma violência inaudita.
Por isso hoje, restando a religião como as únicas ideologias em vigor, quer por nova explosão de radicalismos contidos no Ocidente, ou muito mais provavelmente,pelo fundamentalismo islâmico, corremos sérios riscos de um descalabro mundial terrífico.
Fica aqui a ideia que a Leitura dos Textos, sejam eles quais forem, tenham eles o rótulo que tiverem, são sempre perigosas. Ou a leitura é livre, e se transformada em orientação colectiva, é altamente perigosa. Ou a mesma é filtrada por magistério da hierarquia eclesiástica, e as as realidades apresentadas são segredos de alguns com finalidades nem sempre de acordo com quem os escreveu ou induziu a que fossem escritos.
Estou em pensar que o que Lutero disse ao seu protector Felipe de Hesse quando este casando-se em segunda núpcias sem romper com o primeiro matrimónio, assumiu que o teria feito porque a Bíblia, lida literalmente nada dizia contra tal prática (como os anabaptistas afirmavam e praticavam) Lutero respondeu: de facto não diz nada contra a poligamia, mas guarda segredo (do que lá lês) para não fazeres escândalo.
Bom conselho .Cada um lê e guarda para si a opinião.
Aladino
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