terça-feira, janeiro 05, 2010


Às voltas com Cristo

Perceber que Cristo foi um humano, que só as circunstâncias históricas empurraram para uma conotação divina, parece-me evidente. Duvidar da sua existência parece-me errado e falho de lógica. Os Evangelhos escritos uns quarenta anos depois da sua morte, dificilmente, apesar de todas as contradições que espelham, poderiam reinventar uma personagem de tão grande carisma. Nesse tempo, a recolha da tradição oral de factos, levaria a que de pronto, tão perto dos factos, ser denunciada a invencionice.
Historicamente Jesus existiu. Sempre foi isso que quis acreditar. E nada mais conseguiu além disto.
As contradições dos Evangelhos, lidos Mateus, Marcos Lucas e João( o ancião), só ainda muito recentemente começaram a ser objecto de estudo, confrontados os textos. Contando a história de Jesus, actos e palavras, é tão fácil neles encontrarem-se contradições de tal ordem ,que se percebe ,mesmo para um leigo ,que neles houve uma intenção de mitificar a figura de Cristo histórico. Os Evangelhos não escapam a uma comparação com profecias anteriores, onde se mistura o pagão (mítica solar) e o contexto judaico .Culpada a tradição oral pelas discrepâncias encontradas, sempre assim o justificou a Igreja católica.
Podem ler-se estes textos de uma outra maneira. Apreciando a sua beleza, e dar-mo-nos ao trabalho de tentar perceber como em coisas fundamentais ,mesmo no que uns beberam dos outros, houve alterações profundas do relato.
Cristo pareceu apenas vir, em principio, resolver, apenas e só, o problema judaico. Jesus terá nascido 9 a 5 aC e vivido 30 a 40 anos (há estudiosos que vão até aos 45 anos) inserido numa classe média, em permanente contacto com Judeus Fariseus (e talvez Essénios). Jesus terá mudado de atitude com a visita a João Baptista. Este grande pregador, na época exortando o povo judaico ao banho purificador no Jordão, como salvação dos tempos do fim do mundo, foi silenciado .E Jesus foi então tomado por seu discípulo. Depois de preso e executado, João, parece, pois, ter chegado a vez de Jesus lhe tomar o lugar, e levar, «porta a porta», a mensagem.
Jesus nesta nova actividade apareceu então a «fazer curas». Ainda hoje há crença nos curandeiros, que faria naquele tempo.
Jesus, mais iluminista que politico, cedo percebeu que lhe era mais fácil arrastar aquelas gentes pelo convencimento de que tinha chegado o «Messias» há tanto esperado pelo povo judaico. Jesus teria, assim, tentado cativar as massas, utilizando alguns truques para melhor e mais rapidamente fazer ouvir a sua mensagem. Mas não fez partido político, ao que se sabe. E por isso não tentou fazer uma nova «igreja», uma nova religião, mas sim aglutinar os israelitas num novo quadro religioso, uma ekklesia- a assembleia-geral do povo judeu. Ele próprio o disse: «não vim para mudar mas para aperfeiçoar» Mateus. E até se justifica «só vim para tratar das ovelhas perdidas de Israel» (M).
Cristo provavelmente nunca terá pensado que sobre as suas palavras se viria a fundar uma religião que se oporia á sua, o judaísmo. Paulo encarregou-se desse feito, ele que já tinha estado contra Cristo, terá abusado de o citar nas intenções quando divulgou a nova igreja.
Cristo não terá sido um homem submisso? Claro. E ai reside uma das suas virtudes e também a razão porque foi executado. Por ter evocado a sua qualidade «messiânica».
Jesus esteve ao lado dos desfavorecidos, conviveu com os excluídos, e tentou reformar o judaísmo, como foi o caso da «expulsão dos mercadores do templo». Isso me parece inquestionável. Foi um homem contestatário, hoje poderia ser dito das «esquerdas».
Aladino
Ps- Que fique claro. Eu falo no resultado das minhas leituras. Não quero tocar na crendice dos outros. Estas nótulas serão o resultado de conversas entre gente que gosta de pensar por si.(SF)

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