domingo, janeiro 10, 2010

Cristo (II)

No decurso da educação católica em que familiarmente me vi inserido com particular intensidade, fui ao longo do tempo tentando perceber, ou recolhendo informação, sobre as coisas (certezas) de que ouvi falar, que sempre me pareceram inconsistentes, porque cheia de contradições. Acreditar, parecia-me fruto de educação,de tradição familiar, mas nada mais…
Ora de entre os mistérios teológicos, aquele que me poderia abrir a porta para consolidar a crença, era, sem dúvida, a questão da Ressurreição. Pois foi precisamente ao contrário. Concretizemos...
Nada melhor que colocar as descrições, os relatos pormenorizados, concretos e sólidos (?) que para um facto de tal importância, sucedido e conhecido que importava relatar com todo o rigor, deveriam estar longe de contradições de modo a merecer crédito indiscutível.
Alinhem-se os relatos dos neo-testamentários e eles não resistem a uma rápida análise de um qualquer profano. Não é preciso ser-se especialista. Basta deduzir.
E o que encontro neles?
Pregado – e em consequência tendo expirado -na cruz, o que foi feito ao corpo de Cristo?
Parece neste ponto haver uma certa identidade nos neo-testamentários. De facto entre Mateus e Marcos há concordância de que o corpo terá sido entregue a um tal José de Arimateia (apenas a diferença existe na qualidade deste José). Lucas também não difere na referência á entrega do corpo por Pilatos.
Mas João o místico, o« Ancião» grego, inspirado em João o «discípulo», relata as coisas de um modo bem diferente. Não só refere dois anjos, como lhes põe na boca palavras que nos outros não são referidas.
Vejamos: em Lucas as mulheres vão intencionadas a ungir o corpo, e sem que haja abalo terreno, encontram a pedra da sepultura já aberta. Nela está um jovem à direita. Não há guardas.Em Lucas as mulheres vão para ungir, mas não é referido abalo de terra, nem guardas.
Relata,sim, o aparecimento de dois homens que dão o anúncio do local aonde se devem dirigir (em sitio bem diferente do referido nos outros textos).
Ora em Mateus refere-se o abalo e desce do céu um anjo que remove a pedra e que nela se senta.
Mas, voltando a João, este só refere uma mulher, a Maria Madalena que não vê ninguém no sepulcro. E que chama, de pronto, os discípulos para testemunhar.
Que grande confusão, no mínimo, em matéria tão fundamental, central, para que se acreditasse na divindade de Cristo. Inspirados por uma Divindade, estes textos não poderiam ter contradições tão flagrantes
Então, parece, que isto atesta a realidade dos escritos e autores: Marcos (traduzido por Pedro) afasta a mística; Mateus apesar de inspirado em Marcos mostra a tendência em colar a Cristo a mítica pagã, oriental (abalos, seres celestiais vindos do céu etc.). Lucas manteve-se fiel a Marcos, e nele se inspirou, pois nunca teria tido qualquer contacto com os acontecimentos. E, em vez de um, põe dois homens para, certamente dar maior credibilidade aos factos. E até introduz no caso o apóstolo Pedro, homem de credibilidade na comunidade Judaico-cristã.
E João?
O mais místico transforma os homens (dois) em anjos, só refere uma mulher, e não anuncia o aparecimento de Jesus em lado nenhum: fá-lo aparecer logo ali. Põe o João (Sacerdote a entrar primeiro que Pedro no tumulo, embora reserve para si a primazia de ter sido o primeiro a ver o sudário. Viu e acreditou.

Fiquemos hoje por aqui…
Aladino

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