«Milena»
Surpreendente (e muito louvável) a iniciativa de «O Ilhavense».
Não só por promover a
edição do livro «Milena», livro que, diga-se desde logo, se absorve de um trago: inicia-se e tem-se logo vontade
de o levar de uma tirada até final .Porque é um trabalho muito sério (e
infelizmente essa seriedade não tem
sido apanágio na abordagem da epopeia do Bacalhau).E muito bem organizado (o
registo factual é brilhante), lindamente escrito na sua simplicidade narrativa.
E acima de tudo de uma virtude intocável: o autor narra factos, mas nunca cede
á tentação de se fazer figurante maior. O que, no relato bacalhoeiro, é pouco
(ou nada) habitual.Mais propenso os autores
a auto- biografarem-se.
Sem duvida que o «Milena» é a figura central onde decorrem os
«feitos». No caso azarados. Curiosamente lembro-me do «Milena – conheci muitos
figurantes que lá deixaram suor e lágrimas –- e na minha memória de rapazito e ouvinte
atento das conversas dos «bacalhoeiros», que duravam noite fora, por vezes até ao nascer do sol, a ideia que retive é que
sendo um «barco grandalhão», não era um mimo de lugre: mau de manobra, pesadão,
muito trabalhoso para a pesca, alto de borda, diziam «ser barco de sorte má
para quem lá embarcava». Certamente a má sina que o perseguiu em 48, terá
acontecido em muitas outras campanhas. Os barcos, como os homens, têm alma. E
por isso há uns de boa sina, e outros de sina danada.
«O Ilhavense» para lá de promover a edição, tudo fez para
dignificar a sua apresentação, dada a
ausência do autor, muito bem representado por seu irmão..
Empenhou-se(eu testemunho-o) na dignidade do acto.
Só não entendo porque não se deu ao livro o palco merecido. Este
sim (!) merecia a sala do MMI.
Porque este livro fará história. Outros que lá foram
pomposamente apresentados, nem no rodapé da dita, ficarão. A não ser que a sala
(muito digna) da Junta de S.Salvador, tenha sido escolha própria de «O Ilhavense».
SF
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