"O mês de Novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia."
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UM OLHAR SOBRE A COSTA NOVA (séc. XIX/ inicio séc.XX) - PARTE I
Em 1808 a deslocação da abertura que ligava a laguna ao mar, fixando-a no actual local, trouxe um problema acrescido às companhas que laboravam na costa de S.Jacinto, em frente à Senhora das Areias.
Desde meados do século XVIII que as dificuldades de renovação das águas lagunares trouxeram consigo uma crise profunda a toda esta região; crise económica devido ao quase desaparecimento das espécies, provocada pelo inquinamento das águas interiores. Mas e também, uma crise desesperada, motivada pelas pestilências que tal situação provocou nas gentes ribeirinhas, ceifando um número apreciável de vidas daquelas gentes desprotegidas para resistir a tal flagelo.
Os pescadores tiveram de saltar para a borda do mar, deixando a laguna,então morta, levando consigo as redes do chinchorro e as bateiras, procurando rápida e laboriosamente o sustento nas águas do mar. As condições eram penosas e perigosas, tão penosas como o era o alar das redes feita à força do braço. Mas logo com engenho e arte, sonharam – e realizaram – uma embarcação capaz de ir mais longe, que saltasse na quebra da vaga, encabritando-se até aos céus para logo descer em segurança (?!), e assim ultrapassar essa dificuldade primeira. Aprontado o meia-lua, meteram-lhe no enorme bojo as artes maiores – a xávega – redame que os galegos lhes tinham ensinado a manejar, saltaram-lhe dentro agarrando-se ao punho dos remos, segurando -e segurando-se – no reçoeiro, entrando mar adentro em volta larga antes de virem abicar praia.
Ora a abertura da nova barra trouxe uma nova e inesperada dificuldade; a correnteza da maré tornava difícil, ou até problemático e muito inseguro, principalmente de noite, o acesso a S Jacinto. Luís Santos Barreto – Luís da «Bernarda», alcunha da sua mãe – e seu irmão José, valentes e venturosos arrais da xávega, resolveram tentar a sua sorte a sul. Luís aportou á Costa Nova, varando nas dunas desertas, ali defronte ao local onde mais tarde foi implantado aquele que foi o palheiro habitado por «José Estêvão». O irmão José, esse, mais temerário, continuou. E só parou na costa de Lavos, aí se fixando.
A pesca correu tão bem ao Luís - mesmo que feita em dia chuvoso! - que logo outros companheiros puseram mão aos remos e trouxeram as suas tralhas, dispondo-as na costa. Para a diferenciar da antiga, logo a apelidaram de COSTA-NOVA, cujo acesso feito por travessia de barca na «Maluca»,era muito mais cómodo e fácil.
Criou-se ali uma comunidade piscatória, relevante. Em 1837 eram seis as acompanhas em laboração, empregando seiscentos e trinta e seis pescadores; e outras tantas pessoas (ajudantes, salgadores, peixeiras, mercantéis) que trouxeram movimento desusado àquela zona, até ali, então, deserta. A esta comunidade veio juntar-se o lavrador gafanhão-o labrego-, que trouxe os seus bois à borda para facilitar o alar das artes, numa espécie de ruralização da beira-mar.
Construída a capelinha de tábuas cobertas com caniço,no intuito de glorificar o orago S Pedro, santo protector destas gentes que lhe manifestavam muita devoção e crença, logo em volta da mesma se foram instalando os palheiros. Uns, mais simples e toscos,apenas destinados a resguardo daquelas gentes. Outros de portal largo para acesso dos enxalavares – carros de rodas largas onde se transportava o peixe que eram puxados por uma parelha de bois- e onde se instalaram as novas fábricas de salga – os palheirões. Uma nova técnica que o francês Mijoulle (1773) tinha trazido para a região, permitindo uma utilização do peixe para tempo muito posterior á sua captura. O que traria um acréscimo à importância da sardinha, que se afirmaria o grande alimento de uma época onde os períodos de jejum obrigatórios, longos, incitavam á sua procura, já que era um tipo de peixe que suportava bem tal tratamento de conservação, sem perda de qualidade.
Em 1808 a deslocação da abertura que ligava a laguna ao mar, fixando-a no actual local, trouxe um problema acrescido às companhas que laboravam na costa de S.Jacinto, em frente à Senhora das Areias.
Desde meados do século XVIII que as dificuldades de renovação das águas lagunares trouxeram consigo uma crise profunda a toda esta região; crise económica devido ao quase desaparecimento das espécies, provocada pelo inquinamento das águas interiores. Mas e também, uma crise desesperada, motivada pelas pestilências que tal situação provocou nas gentes ribeirinhas, ceifando um número apreciável de vidas daquelas gentes desprotegidas para resistir a tal flagelo.
Os pescadores tiveram de saltar para a borda do mar, deixando a laguna,então morta, levando consigo as redes do chinchorro e as bateiras, procurando rápida e laboriosamente o sustento nas águas do mar. As condições eram penosas e perigosas, tão penosas como o era o alar das redes feita à força do braço. Mas logo com engenho e arte, sonharam – e realizaram – uma embarcação capaz de ir mais longe, que saltasse na quebra da vaga, encabritando-se até aos céus para logo descer em segurança (?!), e assim ultrapassar essa dificuldade primeira. Aprontado o meia-lua, meteram-lhe no enorme bojo as artes maiores – a xávega – redame que os galegos lhes tinham ensinado a manejar, saltaram-lhe dentro agarrando-se ao punho dos remos, segurando -e segurando-se – no reçoeiro, entrando mar adentro em volta larga antes de virem abicar praia.
Ora a abertura da nova barra trouxe uma nova e inesperada dificuldade; a correnteza da maré tornava difícil, ou até problemático e muito inseguro, principalmente de noite, o acesso a S Jacinto. Luís Santos Barreto – Luís da «Bernarda», alcunha da sua mãe – e seu irmão José, valentes e venturosos arrais da xávega, resolveram tentar a sua sorte a sul. Luís aportou á Costa Nova, varando nas dunas desertas, ali defronte ao local onde mais tarde foi implantado aquele que foi o palheiro habitado por «José Estêvão». O irmão José, esse, mais temerário, continuou. E só parou na costa de Lavos, aí se fixando.
A pesca correu tão bem ao Luís - mesmo que feita em dia chuvoso! - que logo outros companheiros puseram mão aos remos e trouxeram as suas tralhas, dispondo-as na costa. Para a diferenciar da antiga, logo a apelidaram de COSTA-NOVA, cujo acesso feito por travessia de barca na «Maluca»,era muito mais cómodo e fácil.
Criou-se ali uma comunidade piscatória, relevante. Em 1837 eram seis as acompanhas em laboração, empregando seiscentos e trinta e seis pescadores; e outras tantas pessoas (ajudantes, salgadores, peixeiras, mercantéis) que trouxeram movimento desusado àquela zona, até ali, então, deserta. A esta comunidade veio juntar-se o lavrador gafanhão-o labrego-, que trouxe os seus bois à borda para facilitar o alar das artes, numa espécie de ruralização da beira-mar.
Construída a capelinha de tábuas cobertas com caniço,no intuito de glorificar o orago S Pedro, santo protector destas gentes que lhe manifestavam muita devoção e crença, logo em volta da mesma se foram instalando os palheiros. Uns, mais simples e toscos,apenas destinados a resguardo daquelas gentes. Outros de portal largo para acesso dos enxalavares – carros de rodas largas onde se transportava o peixe que eram puxados por uma parelha de bois- e onde se instalaram as novas fábricas de salga – os palheirões. Uma nova técnica que o francês Mijoulle (1773) tinha trazido para a região, permitindo uma utilização do peixe para tempo muito posterior á sua captura. O que traria um acréscimo à importância da sardinha, que se afirmaria o grande alimento de uma época onde os períodos de jejum obrigatórios, longos, incitavam á sua procura, já que era um tipo de peixe que suportava bem tal tratamento de conservação, sem perda de qualidade.
A Faina na borda
1822 trouxe um novo hábito que viria revolucionar mentalidades e costumes: a procura das praias de mar para banhos, que a casa real tinha com o seu exemplo, promovido. Os primeiros banhistas instalaram-se em enxergas postas na areia, nos humildes palheiros, que começaram a posicionar-se para sul das companhas, mais junto à ria.Logo a seguir foram tentados pela aquisição, ora de terrenos – logo que os mesmos passaram da jurisdição de Ovar para Ílhavo (1855) – ou e, dos próprios palheiros, muitos dos quais foram passando para as mãos dos veraneantes.
Nos finais do século XIX, a «Costa Nova», que entretanto anexara o «do Prado» à designação inicia, para sua identificação, começou a adquirir tiques cosmopolitas, tornando-se local privilegiado de visita ou estadia de políticos, escritores, figuras da igreja e da sociedade civil, para o que foi vital a acção de José Estêvão, notável e cativante anfitrião, impulsionador de tais convívios, profusamente referidos à época.
O século XX iria fazer da Costa Nova do Prado um ponto de encontro e divertimento, para gozo em férias. Foram criados locais de encontro: -as famosas Assembleias, os Salões – em que o mais famoso se designou Salão Arrais Ançã - Clubes, todos locais onde grupos disputavam acirrada e galhardamente a notoriedade das suas festas – bailes, conferências, concursos de beleza, concertos, promovendo touradas, circuitos de motos, regatas, e claro, as famosas chinchadas da época. Locais de convivência alegre e despreocupada de elites, deram origem a uma intensa vida social, onde era primordial o doce chilreio da graça feminina, o que serviu para fazer da Costa – Nova, um local e um sítio prazenteiro, cheio de cor vida e graça.
A diversão no «Bico»
Ao pé descalço, e a perna ao léu, e a sem gravata , foram sendo substituídas pelo rigorismo pedante que a envolvem num banho de volúpia e num beijo enorme de desejos sensuais, escrevia-se num postal de ali enviado.
Os Jornais da época, principalmente de Ílhavo, Aveiro e Águeda – mas e também as Gazetas de Lisboa – disponibilizam espaço para laudas e laudas de notícias, postais, crónicas e croniquetas, que alimentaram o mito do local mais cosmopolita da região – a Costa Nova – local da gente polida da época, sociedade do chiquismo, onde todos se desejavam ver – para gozo da maravilhosa e pródiga natureza – mas e também para serem vistos, por vezes até, anunciada a sua chegada em largas parangonas: - «nos próximos dias chegará para gozo de férias , S. Exª etc.…acompanhado da esposa e… »-era habitualmente lido, nos jornais locais.
A Costa –Nova era Sol, muito sol, sempre sol. Amplidão de frescura e água onde apetece mergulhar. uma tela onde a luz tem o papel principal: - dizia-se à época
No mar
Ílhavo seria bem diferente se não tivesse de entre as suas jóias, esta, a mais bonita da coroa.
Seria diferente naquilo que tem para oferecer e cativar o visitante; mas seria diferente porque foi ali -na Costa Nova – nesse convívio privilegiado, se gerou a geração de 20 ,uma geração de ouro que se afirmou e lhe conferiu um destaque, por de entre os seus filhos,surgirem figuras que se viriam a afirmar no panorama nacional nos mais variados campos ; das letras ,das artes, dos ofícios e saberes.
S F.(2008)
Jan 2008
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