Eu e a minha má relação com os «Natais»
Gostaria de viver utopicamente num mundo onde não fosse
necessário haver «natais», para, por vezes e só aí, nos lembrarmos para fora. Para todos
os que nos rodeiam. Uns para quem
olhámos mais. Não precisariam de…. Outros de quem até certamente, apesar de tão
próximos, nem demos por eles.
Parece que só no Natal, nos apercebemos de que durante o ano
errámos (inadvertidamente?) os gestos.
Bem : valha-nos ao menos termo-nos apercebido,
momentaneamente, disso.
Os «natais» foram sempre um tempo de grande amargura. De
mal-estar e inquietação. Tempo de avaliar que o que fui fazendo, que quase
sempre esteve em desacordo com o que queria realmente fazer. Ou pelo menos
longe…..
Afinal olho para trás, e concluo: fui um acomodado.
Aqui chegado, concluo que não vale a pena ter pena de mim,
por me não atrever a mudar.
Também nos meus «natais» havia pratos fingidos, postos em
cima de toalhas fingidas, com trenós e renas, cheios de vitualhas que,
fingidamente, se acreditava existirem em todas as mesas. Porque o fingido «Pai
Natal», não cometeria o sacrilégio de as dar só a alguns. E logo a mim…..
Andei uma vida a prometer-me, que um dia iria finalmente
para um qualquer lado, onde houvesse um qualquer rio, para nele voltar a pôr a
navegar os barcos de papel que levavam as pedras preciosas dos meus sonhos de
criança.
Agora que já não há rios, nem barquinhos, e muito menos
sonhos, abstraio-me, esperando que as horas corram. E minimizo , aqui e ali, só
pontualmente, as coisas. Como já não estou em lugar algum que me permita
modificar seja o que for, não o altero. E não me incomodo. Vou para a cama sem
projectos .
E percebo então
porque há muitos que dormem sempre bem !São os que andam uma vida a acreditar
que os «pais natais» chegam e sobram para resolver os problemas dos outros....
SF - Natais
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