NATAL 2013
O relógio não para
O tempo corre
Neste dia afinal, frio e zangado,
A ria palheteada de prata
Parece cansada
Da sua peregrinação
De tanto correr para o mar.
E eu também cansado
Fico a desouvir o
mundo
Onde reina humana
expiação.
É frio este
entardecer
Não vale a pena fingir
E rezar por mim.
Não, não o faças.Cheguei à vida
Porque assim quiseram.
Cheguei a sorrir,
Eu não sei bem se o desejava.
Não sabia que ia cumprir
Um fadário em que me negava:
Mais fazer pelos outros
Que por mim não ser.
Hoje anseio
Nova noite de magiaEm que nasças de novo;
Não para seres mais o menino
Mas para seres o Homem
Que com a palavra derrubasse o muro
Para que por ele passem
Aqueles para quem não há presente,
E muito menos futuro.
Quereria ainda antes de partir
Ter a doce ilusão
Uma ilusão do tamanho
Do meu eu
Que a humana pequenez
Do espoliado revoltado
Ferisse a «fera» do mundo;
E quando a manhã nascesse
Não houvesse ricos nem pobres
E o homem fosse o centro da bandeira
A querer ser sem condições
A olhar livre, todas as direcções.
E quando hoje deixasse de ser hoje,
Este obscuro poema
Transformado presépio real
Pudesse gritar ao mundo:Afinal sempre há Natal!
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