Prolongando a vida num poema
Tarde pardacenta em que tudo parece suspenso. Até a ria está deserta. Nem a cricalhada de que normalmente um homem não se enjoa, os parece atrair de todo. Não os vejo a lavrar o areal.
Tempo de desesperos : o desespero do desespero é sentir que
mesmo estes dias inertes, contam para o calendário. O que não está,de todo, certo.
O tempo enfarruscado parece adivinhar uma consoada fria, onde apenas e só conta e
pesa, o que não pudemos ser, daquilo que queríamos ser . E o peso das nossas omissões pesa como chumbo.
Ano de desencanto ,onde o presente desmerece do passado, e
parece já não haver lugar para (algum futuro).Tudo o que se fizer daqui para a
frente é um matar de solidão. Pareço siderado num passado que já foi meu,
temendo que hoje, Só, a vida pouco tenha de encanto.
Que fazer? Rabiscar um poema para me sentir um pouco mais vivo? Vamos lá ver....
Sinto-me hoje abandonado
Não sei quem está
Sei apenas que
não está
Quem desejava.
A vida
traiu-me
E hoje
apenas namoro
A paisagem da ria,
Absorto
Escondo no olhar
O meu abandono.
Apetece-me emprenhar
O mundo
De sábia harmonia
Transferida de
meus olhos,
Para pauta em serena melodia.
SF Dez 2013
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