Heterónimo…et voilà..
Com o aparecimento do livro
«Maresias», sucedem-se os espantos daqueles que, conhecendo-me ao longo de uma
vida, foram construindo uma ideia completamente diferente do meu eu, como personagem.
Às vezes até – que diabo! – excessiva. Bem distorcida, muito hiperbolizante.
Eu justifico: nós… todos nós!... não podemos ser exactamente
como gostaríamos de ser. E a vida comanda muito da nossa postura, e até, dos
nossos actos.
O mundo-dizia o poeta- é de quem não sente. Eu por mim
encontrei uma boa dose de insensíveis. Dizem essas pessoas que são assim por
assumirem uma atitude essencialmente pragmática. Outros até chegam ao dislate
de serem assim, ou assim procederem, por racionalidade: dizem !
Ora comigo numa ansia de querer
ser tudo quanto a vida me deixasse ser, houve momentos que me exigiram
determinação, risco, e logo, acção. Por
vezes foi preciso fazer escolhas dolorosas. Toda acção tem em si uma provocação
da nossa personalidade sobre os que nos
circundam: às vezes ocorre falharmos. E então magoarmos, ferir alguém que se
atravessa no nosso caminho. Quem quer ser, apenas e só simpático, não sai do
mesmo sítio.
Houve pois momentos doridos. Não
tinha a certeza que as minhas decisões estivessem certas.
E sabia que um dia teria de o
confessar, mesmo publicamente. E foi o que aconteceu, agora que me desnudei, tal
desfaçatez não deixa de criar engulhos a alguns. Expor-me assim...?!
Uma sensibilidade híper activa
esteve sempre presente. E por isso houve momentos em que necessariamente tive
de ser frio, calculista e até exceder as barreiras convencionais.
Todos nós carregamos um «crime»
feito, ou um crime que a vida nos pede para praticar. Hoje sinto-me com as
contas em dia.
Concluo que deveria ter assinado
o «Maresias» com um heterónimo. Assim talvez estivéssemos mais perto da
realidade.
Uma parte exigiu que fosse de uma
maneira; outra parte permitiu-me ser um outro que talvez sempre tenha desejado
ser, mas que me foi impossível ser….
SF Dez 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário