HABEMUS PAPA...
Na entrevista dada pelo Papa Francisco,
a um jornalista, que se sente ser de grande proximidade, e quiçá, até, amizade pessoal
– uma clara atitude, própria de um «cura paroquial» que «Bergoglio» não
pretende esquecer – saliento uma questão muito embaraçosa. Mas a que Francisco não
escamoteou resposta. Só que esta levanta toda uma série,infindável, de
interpretações, pois que nunca viramos, desassombradamente, um Papa, falar de
direita ou esquerda.E muito menos,
posicionar-se, intencionalmente, num dos lados.
Francisco(mais ainda«Bergoglio»)
foi claro: os malefícios mundiais são uma consequência das doutrinas da direita, nas
quais o homem é instrumentalizado, posto ao serviço do poder nefasto do
dinheiro. Mortos os Impérios, o Capital virou-se para dentro do que restava, e
está, canibalescamente, determinado a explorar os novos «escravos».Empresta-lhes
10 para comprar as missangas (automóveis,TVs,
mobílias,viagens, etc., etc.), e exige 100 de volta, já amanhã. A grande
questão que urge obter resposta é: mas afinal de onde vem o rio de dinheiro que
apenas circula nos circuitos digitais, sem ter existência real, contável? E
porque é deixado chegar aos bolsos dos especuladores que trapaçam as regras, contornando
as leis, chafurdando na mentira dos números, fazendo crer no merecimento das
suas sujas jogadas? Compra-se à noite em Taipé, vende-se às oito em Londres, por
vezes até se duplica a venda, criando activos fictícios, estabelecem-se
paridades, e vai-se deixando cair numa qualquer escondida ilhota, à mão,
o dinheiro vivo, proveniente do lucro.
Sendo o dinheiro o fim único das
políticas da direita, e dado que os desempregados jovens não o têm, e não o têm,também,
os «velhos», o «capital» especulativo leva, uns, nos comboios negreiros (que substituíram as
naus do antigamente), a soldo precário e baixo; e retira aos outros
as migalhas que ainda sobraram. Para a direita, o bife tem de ser todo sem osso, nem gordura.
Desassombradamente,Francisco,encosta-se
à esquerda.É pois um homem do seu tempo, que lê e interpreta claramente, aquilo
que se passa em seu redor.
Claro que é preciso clarificar bem,
o que é esta esquerda humanista. De
um modo também claro e inequívoco, Bergoglio já apontou armas, a uma certa esquerda. Há depoimentos de
Bergoglio que desancam o (um!) «socialismo». Que
socialismo, perguntar-se-á? Claro: os «socialismos» de tipo militarista, popularuchos,
que se desmoronam ao fim de uma prática corrupta, ideologicamente tão redonda
quanto o é uma batata. E se estes socialismos – os sul-americanos –Bergoglios
conhece-os bem, também conhece as experiências totalitárias, ditas Socialistas,
império nefasto de oligarcas que distorceram em absoluto o chamado paraíso
proletário.
Para mim a questão está em
desligar o conceito posicional (esquerda) das práticas socialistas radicais,perigosas,
e tão próximas da direita (no desrespeito pelo homem, sua emancipação e
liberdade),que se confundem nos resultados. É inegável: seja de direita ou de
esquerda, o radicalismo rapidamente desfaz as promessas popularuchas que levam
à tomada do poder,e conduz, cedo ou tarde (quase sempre cedo), o povo, a uma
pobreza generalizada.
Ser-se de «esquerda», é pois uma
prática exigente. Não basta papaguear-se, sê-lo. Nem fazer esforços, em
parecê-lo. Ou se é, ou não se é. E a
prática é que o diz.
Mas atenção: ser-se de esquerda é
também combater as ideias radicais ditas
de esquerda, que negam a práticas pragmáticas de ensaio de novos caminhos. Que
não os do passado.
Este alinhar da Igreja cristã,
com os ideais de uma esquerda, num desafio capaz de minorar os problemas de uma
pobreza endémica, poderá, contudo, vir tarde de mais. O fanatismo religioso
islamita só agora começa o seu período negro, tipo inquisitorial (acabar com o outro ramo islâmico, como a igreja católica
intentou com os judeus).De uma maneira ainda mais bárbara. A luta de
religiões agudiza-se, pois.
As religiões nasceram da
necessidade de o Homem remeter para «outrem», o que o transcendia, e o que o
saber (cientifico) não explicava. Apesar de muitos e grandiosos passos, ainda
há muito para explicar. E muitos na (total) ignorância. Quase a mesma daqueles
tempos em que Cristo propôs novos caminhos a percorrer.
Agora é Francisco que vem propor
novas veredas.
Só que
hoje o islamismo exacerba a ideia de submeter a polis, e extremar o fanatismo
religioso, para o fim último de dominar o poder civil, tenuemente instalado.
Não vão chegar as palavras, nem os
gestos, para lidar com esta explosiva situação.
SF Junho 2014
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