Sol na paisagem, e
sombra dentro de mim.
Manhã
cedo, ainda meio a dormir, olhei, extasiado e algo confuso, para o que
tinha diante de mim: - a ria vestida de um azul, tão azul, que encharcava o olhar, inebriando-o.
Ao largo, uns esfarrapados restos da neblina matinal, repousavam, aquietados,
sobre tanto azul.Cobertos por outra imensidão azul.
Queres lá ver
que me passei sem dar por isso, e já
cheguei ao céu: - pensei eu,
confuso.
Claro que era no mínimo, intrigante. Primeiro porque a viagem tinha sido muito rápida. Afinal o céu não estava tão longe assim...
Segundo, e mais intrigante: –
como é que um impenitente pecador sem
remorsos – bem pelo contrário, com pena, é, de não
ter pecado mais! tinha vindo parar àquelas
paragens, por tantos, procuradas e desejadas, mas ao que se diz, por tão poucos,
encontradas.
Lá de baixo – no céu
não há sul, nem norte – vejo vir uma bateira. Era com certeza
– pensei eu – S. Pedro, o pescador, a deitar as suas
redes. .
Bem, disse cá para
mim, afinal no céu também se come…e
certamente não é manjar tipo gourmet, só
para os olhos verem. Não!...deve ser do tipo conventual, de
boas e reconfortantes vitualhas. Para os olhos e estômago.
E foi só quanto o António do Ló
rumou direito a mim, à
margem, onde (perto) vem habitualmente lançar a primeira bóia do tresmalho,
que saí da confusão
matinal.
O Toino do Ló não buscava os bons, os
eleitos, mas tão só uns negros chocos para com eles matar a fome. Tudo o que vem à rede é peixe…
-Então quando é que põe aí a escada...que nos faz um jeito do caraças, para mandar trazer umas
cervejolas (?!), inquire o Toino(de facto, este ano, ainda não pus lá a referida escadinha
(ilegal),que substituiu a anterior, de degraus feitos na muralha.Posta abaixo
pela requalificação da margem).
- Amanhã…..,disse-lhe eu.... a pensar que, de facto, é chegada a altura de tomar umas
banhocas, ao lusco fusco. A melhor hora para saborear a ria.
Este céu era, afinal, o habitual
panorama que tenho defronte ao meu terraço, onde saboreio, guloso, os beijos salgados da ria. Que
me libertam do pensamento da tragédia humana que vai pelo mundo.
Sol na paisagem, e sombra dentro de mim.
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