sábado, junho 21, 2014





 
Sol na paisagem, e sombra dentro de mim.
 
Manhã cedo, ainda meio a dormir, olhei, extasiado e algo confuso, para o que tinha diante de mim: - a ria vestida de um azul, tão azul, que encharcava o olhar, inebriando-o. Ao largo, uns esfarrapados restos da neblina matinal, repousavam, aquietados, sobre tanto azul.Cobertos por outra imensidão azul.
Queres lá ver que me passei sem dar por isso, e  já cheguei ao céu: - pensei eu, confuso.
Claro que era no mínimo, intrigante. Primeiro porque a viagem tinha sido muito rápida. Afinal o céu não estava tão longe assim...
Segundo, e mais intrigante:  como é que um impenitente pecador sem remorsos bem pelo contrário, com pena, é, de não ter pecado mais! tinha vindo parar àquelas paragens, por tantos, procuradas e desejadas, mas ao que se diz, por tão poucos, encontradas.
Lá de baixo no céu não há sul, nem norte vejo vir uma bateira. Era com certeza pensei eu S. Pedro, o pescador, a deitar as suas redes. .
Bem, disse cá para mim, afinal no céu também se comee certamente não é manjar tipo gourmet, só para os olhos verem. Não!...deve ser do tipo conventual, de boas e reconfortantes vitualhas. Para os olhos e estômago.
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E foi só quanto o António do Ló rumou direito a mim,  à margem, onde (perto) vem habitualmente lançar a primeira bóia do tresmalho, que saí da confusão matinal.
O Toino do Ló não buscava os bons, os eleitos, mas tão só uns negros chocos para com eles matar a fome. Tudo o que vem à rede é peixe
 -Então quando é que põe aí a escada...que nos faz um jeito do caraças, para mandar trazer umas cervejolas (?!), inquire o Toino(de facto, este ano, ainda não pus lá a referida escadinha (ilegal),que substituiu a anterior, de degraus feitos na muralha.Posta abaixo pela  requalificação da margem).
 - Amanhã..,disse-lhe eu.... a pensar que, de facto, é chegada a altura de tomar umas banhocas, ao lusco fusco. A melhor hora para saborear a ria.
 
Este céu era, afinal, o habitual panorama que tenho defronte ao meu terraço, onde saboreio, guloso, os beijos salgados da ria. Que me libertam do pensamento da tragédia humana que vai pelo mundo.
 E assim vou vivendo. Entre a paz exterior que tenho diante dos olhos, e a inquietude interior que me rouba essa paz.
Sol na paisagem, e sombra dentro de mim.        
 SF
 
 

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