sexta-feira, abril 24, 2020


25 de ABRIL 2020




Choro…



Choro este País
Do «Grande Afonso» a mais querer que um País.
Partindo em gloriosa cruzada, gladiou com o mouro infiel   
Para fazer do seu Condado, um Portugal de raiz, 
Numa mão a espada, a cruz na outra mão empunhada.
A mim! A mim! gritou Afonso,
E logo foge o infiel, em debandada. 

Choro este País,

Onde a arraia-miúda se exaltou e se fez graúda
 Parecendo já um povo por inteiro em que se tornou
Ao expulsar o intruso e pérfido castelhano,
Atirando do cimo da torre, à turba, o castelhano Andeiro:
Aqui há um povo a sonhar com Portugal nas suas mãos.

Choro este País,

Do grande el-rei João Segundo
Que os mares assombrosos, terríveis e solitários
Mandou serem navegados, e desvendados,
E  logo as trevas e os medos passaram a estórias
A mostrar a grandeza de Portugal ao Mundo.


Choro este País

De onde saíram cabrais
albuquerques e outros tantos gamas,
Heróis a quem o mundo ouviu contar os mistérios,
Tão grandes como ditosas e louváveis foram, suas famas,
Ao fazer de um País, um  vasto e grandioso Império.

Choro este País

Do imortal vate que nossa epopeia descreveu.
Em versos vertidos da sua pena prodigiosa
Dando ao mundo a conhecer ínclitos Varões.
E os feitos da gesta brava lusitana, grandiosa (!)
Para sempre ficaram gravados
No lirismo épico do imortal Camões.

Choro este País

Que teve de Vieira a palavra eloquente
Para defender os fracos dos abusos dos fortes.
Falando aos peixes por mor do Homem ausente,
E aos homens por mor de Deus sempre presente,
Espalhando a sublime palavra
Botão florido do mais fino recorte.


Choro este País

De Pessoa, o Mensageiro,
Poeta desassossegado cuja genialidade por louca,
Só em si não cabia,
Dispersando-se por outros «eus» que não era o seu.
E por não o ser, foi sempre obra inacabada,
De laborioso mestre a extrair beleza, onde beleza não havia.]     




Mas porque choro, então, País tão grandioso?

Choro este País, não pelo que prometeu ser, mas pelo que é!
Choro o dia em que anunciou não querer,
Nunca mais! ser escravo.
País onde mais do que mandar, era preciso saber obedecer
A si, e não aos outros. A ser livre.
Não “Senhor” de nenhuma guerra
Aqui era o Povo que mandava
Aqui era o povo que reinava



Choro pois, este País, pelo que prometeu ser
E por, afinal, hoje ser
Aquilo que não queria ser.
País este, o meu,
Onde afinal foi mais fácil explorar que colher,
Onde cuidámos mais do vício de ter,                                                                                               
Do que do ser
Alimentando por demais, as ambições de novos corifeus.


E assim o País que queria ver nascer
Ainda não “cresceu”...este ainda não é o “meu”...

SF2020










4 comentários:

Jorge Picado disse...

João

Estás cada vez melhor. Tal como o Vinho do Porto.

e querem os corifeus do seu deles País, acabar e aprisionar os idosos!

Parabéns
JPicado

José Paulo disse...

Muito bom Eng. Fonseca. Adorei

José Paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Paulo disse...

Muito bom Eng. Fonseca. Adorei

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