25 de ABRIL 2020
Choro…
Choro este País
Do «Grande Afonso» a mais querer que um País.
Partindo em gloriosa cruzada, gladiou com o mouro infiel
Para fazer do seu Condado, um Portugal de raiz,
Numa mão a espada, a cruz na outra mão empunhada.
A mim! A mim! gritou Afonso,
E logo foge o infiel, em debandada.
Choro este País,
Onde a arraia-miúda se exaltou e se fez graúda
Parecendo já um povo por inteiro em que se tornou
Ao expulsar o intruso e pérfido castelhano,
Atirando do cimo da torre, à turba, o castelhano Andeiro:
Aqui há um povo a sonhar com Portugal nas suas mãos.
Choro este País,
Que os mares assombrosos, terríveis e solitários
Mandou serem navegados, e desvendados,
E logo as trevas e os medos passaram a estórias
A mostrar a grandeza de Portugal ao Mundo.
Choro este País
De onde saíram cabrais
albuquerques e outros tantos gamas,
Heróis a quem o mundo ouviu contar os mistérios,
Tão grandes como ditosas e louváveis foram, suas famas,
Ao fazer de um País, um vasto e grandioso Império.
Choro este País
Do imortal vate que nossa epopeia descreveu.
Em versos vertidos da sua pena prodigiosa
Dando ao mundo a conhecer ínclitos Varões.
E os feitos da gesta brava lusitana, grandiosa (!)
Para sempre ficaram gravados
No lirismo épico do imortal Camões.
Choro este País
Que teve de Vieira a palavra eloquente
Para defender os fracos dos abusos dos fortes.
Falando aos peixes por mor do Homem ausente,
E aos homens por mor de Deus sempre presente,
Espalhando a sublime palavra
Botão florido do mais fino recorte.
Choro este País
De Pessoa, o Mensageiro,
Poeta desassossegado cuja genialidade por louca,
Só em si não cabia,
Dispersando-se por outros «eus» que não era o seu.
E por não o ser, foi sempre obra inacabada,
De laborioso mestre a extrair beleza, onde beleza não havia.]
Mas porque choro, então, País tão grandioso?
Choro este País, não pelo que prometeu ser, mas pelo que é!
Choro o dia em que anunciou não querer,
Nunca mais! ser escravo.
País onde mais do que mandar, era preciso saber obedecer
A si, e não aos outros. A ser livre.
Não “Senhor” de nenhuma guerra
Aqui era o Povo que mandava
Aqui era o povo que reinava
Choro pois, este País, pelo que prometeu ser
E por, afinal, hoje ser
Aquilo que não queria ser.
País este, o meu,
Onde afinal foi mais fácil explorar que colher,
Onde cuidámos mais do vício de ter,
Do que do ser
Alimentando por demais, as ambições de novos corifeus.
E assim o País que queria ver nascer
Ainda não “cresceu”...este ainda não é o “meu”...
SF2020
4 comentários:
João
Estás cada vez melhor. Tal como o Vinho do Porto.
e querem os corifeus do seu deles País, acabar e aprisionar os idosos!
Parabéns
JPicado
Muito bom Eng. Fonseca. Adorei
Muito bom Eng. Fonseca. Adorei
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