A Capela das Almas (de novo)
Aproveitando o dia de intermezzo
carnavalesco,fui dar uma volta pelos alfarrabistas no Porto. E num deles
encontrei uma preciosidade: nada mais nada menos um exemplar da Revista «Branco
e Negro».O nº44 de 1897.
Este número traz um artigo de
Diniz Gomes muito interessante, como o eram todos aqueles em que rendia devota homenagem ao seu «ílhavo»[1]. Surpreendente
é que o artigo insira fotos com alguma qualidade, umas que já possuo ( prosapiamente
como se diz, Arquivo do Autor iiiiiiiii!) e uma, para mim inédita. Da célebre
«Capela das Almas» ou «Da toira», numa perspectiva inédita.
Desde logo uma questão: a foto é
anterior a 1897,o que é notável(e todas as outras!).Eu catalogara estas fotos
de inicio sec XX. São pois anteriores ,fiquei agora a saber.
Aqui vai a foto:
Tratando-se
inicialmente de um simples oratório que ficava no rio da vila, situado no
“meio” da calçada, que de Alqueidão vinha dar à Praça, foi com o produto
advindo do «altar do mesmo», construída a Capela das Almas - onde a Irmandade
das Almas suportava o encargo com os três capelães. E em que todas as
segundas-feiras se dizia missa cantada por sufrágio das mesmas. Estava situada
no canto sul actual«largo
do Bispo»,
tendo uma forma hexagonal semelhante á Capela da Srª
das Areias ;era pertença da Ordem Terceira da
Penitência de S. Francisco, sendo referida nas Informações de 1758, do seguinte
modo :
“Fora da Capella há modernamente
hum que podemos chamar oratório ainda que nelle se não diga missa. Fica no
sitio chamado Rio da Villa em meyo da Calsada atravessa Alqueidão e vem ter à
Praça. Chamam-lhe vulgarmente as ALMAS DA TOIRA. He um painel dellas de barro
que está imbutido na parede das casa de hum Fulana Toira de alcunha, e faz frente
para o rio”
Por isso se designava o local da
sua implantação por Largo das Almas. Esta
Capela foi sagrada pelo Prior João dos Santos em 12 de Junho de 1771.
Em 4.01.1911,a seguir à
implantação da Republicas, é requisitada pela C.M.I, uma vistoria ao Director
de Obras Publicas Distritais sobre as
condições de segurança da Capela,sita na
praça do peixe, que se dizia serem precárias. A vistoria explicita a situação
de ruína e a Câmara de Abel Regalla, António Paradela, Carlos Santos Marnoto,
José Simões Ramos, Júlio Carvalho, Domingos Gago, decidem colocar em
«Praça» a sua demolição, questão que
levantaria forte polémica e criaria um vivo mal estar entre as populações. O
preço ajustado para a demolição foi de 341$000
réis (acta de 18.01.1911),tendo-se
ainda deliberado proceder à venda dos
bens existentes na Capela(?!)
Em 4.01.1911,a seguir à
implantação da Republicas, é requisitada pela C.M.I, uma vistoria ao Director
de Obras Publicas Distritais sobre as
condições de segurança da Capela,sita na
praça do peixe, que se dizia serem precárias. A vistoria explicita a
situação de ruína e a Câmara de Abel Regalla, António Paradela, Carlos Santos
Marnoto, José Simões Ramos, Júlio Carvalho, Domingos Gago, decidem colocar em «Praça»
a sua demolição, questão que levantaria
forte polémica e criaria um vivo mal estar entre as populações. O preço
ajustado para a demolição foi de 341$000
réis (acta de 18.01.1911),tendo-se
ainda deliberado proceder à venda dos
bens existentes na Capela(?!)
Hoje a «razão» evocada parece não convencer. Porquanto a Capela tinha sido
construída em pedra vermelha de Eirol e, tendo pouco mais do que um século,
nada de especial para um templo. Não seria de esperar que o seu estado fosse
assim tão mau como se apregoou. A sua arquitectura hexagonal conferir-lhe-ia, ainda
e provavelmente, um acréscimo extra de estabilidade.
A questão foi, clara e
inquestionavelmente, de índole politica, pois o regime nos primeiros passos,
pretendeu desde logo limitar a influência do clero «reaccionário», a quem
culpava do estado de ignorância em que se mantinha a população, com o fito
ultimo de assim melhor lhe extorquir os parcos rendimentos que iam engordar as
fortunas dos párocos, corruptos e de gula
material desenfreada, como era voz corrente. E se esta noticia posta a circular percorreu o país de lés a lés após
a implantação do regime republicano, as reacções populares fizeram-se sentir, especialmente
no norte. Ílhavo não escaparia à onda.
SF
[1]
Não sei para quando e porque se espera, editar essa raridade de identidade
ilhavense «Costumes e Gentes de Ílhavo» de Diniz Gomes. Um livro de culto….
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