sábado, fevereiro 16, 2013


A Capela das Almas (de novo)

 
Aproveitando o dia de intermezzo carnavalesco,fui dar uma volta pelos alfarrabistas no Porto. E num deles encontrei uma preciosidade: nada mais nada menos um exemplar da Revista «Branco e Negro».O  nº44 de 1897.
Este número traz um artigo de Diniz Gomes muito interessante, como o eram  todos aqueles em que rendia devota  homenagem ao seu «ílhavo»[1]. Surpreendente é que o artigo insira fotos com alguma qualidade, umas que já possuo ( prosapiamente como se diz, Arquivo do Autor iiiiiiiii!) e uma, para mim inédita. Da célebre «Capela das Almas» ou «Da toira», numa perspectiva inédita.
Desde logo uma questão: a foto é anterior a 1897,o que é notável(e todas as outras!).Eu catalogara estas fotos de inicio sec XX. São pois anteriores ,fiquei agora a saber.
Aqui vai a foto:
 
             

 
Tratando-se inicialmente de um simples oratório que ficava no rio da vila, situado no “meio” da calçada, que de Alqueidão vinha dar à Praça, foi com o produto advindo do «altar do mesmo», construída a Capela das Almas - onde a Irmandade das Almas suportava o encargo com os três capelães. E em que todas as segundas-feiras se dizia missa cantada por sufrágio das mesmas. Estava situada no canto sul actual«largo do Bispo», tendo uma forma hexagonal semelhante á Capela da Srª das Areias ;era pertença da Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco, sendo referida nas Informações de 1758, do seguinte modo :
“Fora da Capella há modernamente hum que podemos chamar oratório ainda que nelle se não diga missa. Fica no sitio chamado Rio da Villa em meyo da Calsada atravessa Alqueidão e vem ter à Praça. Chamam-lhe vulgarmente as ALMAS DA TOIRA. He um painel dellas de barro que está imbutido na parede das casa de hum Fulana Toira de alcunha, e faz frente para o rio”
Por isso se designava o local da sua implantação por Largo das Almas. Esta Capela foi sagrada pelo Prior João dos Santos em 12 de Junho de 1771.
  
Em 4.01.1911,a seguir à implantação da Republicas, é requisitada pela C.M.I, uma vistoria ao Director de Obras Publicas Distritais  sobre as condições de segurança da Capela,sita na praça do peixe, que se dizia serem precárias. A vistoria explicita a situação de ruína e a Câmara de Abel Regalla, António Paradela, Carlos Santos Marnoto, José Simões Ramos, Júlio Carvalho, Domingos Gago, decidem colocar em «Praça»  a sua demolição, questão que levantaria forte  polémica e criaria  um vivo mal estar entre as populações. O preço ajustado para a demolição foi de 341$000  réis (acta de 18.01.1911),tendo-se ainda deliberado proceder à venda dos bens existentes na Capela(?!)

Em 4.01.1911,a seguir à implantação da Republicas, é requisitada pela C.M.I, uma vistoria ao Director de Obras Publicas Distritais  sobre as condições de segurança da Capela,sita na praça do peixe, que se dizia serem precárias. A vistoria explicita a situação de ruína e a Câmara de Abel Regalla, António Paradela, Carlos Santos Marnoto, José Simões Ramos, Júlio Carvalho, Domingos Gago, decidem colocar em «Praça»  a sua demolição, questão que levantaria forte  polémica e criaria  um vivo mal estar entre as populações. O preço ajustado para a demolição foi de 341$000  réis (acta de 18.01.1911),tendo-se ainda deliberado proceder à venda dos bens existentes na Capela(?!)

               

Hoje a «razão» evocada parece não convencer. Porquanto a Capela tinha sido construída em pedra vermelha de Eirol e, tendo pouco mais do que um século, nada de especial para um templo. Não seria de esperar que o seu estado fosse assim tão mau como se apregoou. A sua arquitectura hexagonal conferir-lhe-ia, ainda e provavelmente, um acréscimo extra de estabilidade.

A questão foi, clara e inquestionavelmente, de índole politica, pois o regime nos primeiros passos, pretendeu desde logo limitar a influência do clero «reaccionário», a quem culpava do estado de ignorância em que se mantinha a população, com o fito ultimo de assim melhor lhe extorquir os parcos rendimentos que iam engordar as fortunas dos párocos, corruptos e de gula material desenfreada, como era voz corrente. E se esta noticia posta a circular percorreu o país de lés a lés após a implantação do regime republicano, as reacções populares fizeram-se sentir, especialmente no norte. Ílhavo não escaparia à onda.

SF



[1] Não sei para quando e porque se espera, editar essa raridade de identidade ilhavense «Costumes e Gentes de Ílhavo» de Diniz Gomes. Um livro de culto….

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A « magana » que espere....  Há dias que  ainda me conseguem trazer interesse renovado, em por cá estar  por mais uns tempos. Ao abrir logo ...