O que valeu ao «Cantigas» é
que o raio do canário …era canária…
Intriguei-me nestes últimos dias,
de nunca mais ter postoa vista em cima à Tiberia e à Josefa que como por encanto desapareceram do mapa. Afinal,
nesta ultima segunda- feira, novo encontro.
E fiquei a saber porque se eclipsaram: peixeiras na praça ,esta fecha às
segundas.E é só neste dia que elas vêm
desenferrujar as pernas.
-Ò Senhor :dantes era uma fona .Daqui p´ra Ibalho
,fazer a venda e voltar pela noitinha ,derreadas, esgalfas ,mais tesas que o carapau ressequido que não tivera
freguesa..Aí sim (!) é que estas perninhas que agora parecem mijadas(com sua licença) eram roliças
,duras e torneadinhas. Ai do zamparilho que
se astrevesse a meter-se no meio
delas.
-Era assim, era…. ajunta a Zefa. Às
vezes era já noitinha e o que valia era que aquele caniné do Labareda nos esperava .Até que todo o pessoal arribasse à Maluca, feita a
venda na Vila..-Atão hoje não têm nenhuma estória para me contar? interroguei eu…a meter cunfia.
-Crédo ,você parece q’ué bruxo .Olhe!...vinha agora a lembrar com a Zefa da história da Pauseira «Canária», que era uma savelha de se lhe tirar o chapéu. Mulher danada, de sim ò sopas.Mulher de ou fora ou adentro …a meio é que se não podia ficar.
-Conte lá Ti Tiberia….conte raios que sou todo interessado.
E a Zefa não se fez rogada.
- A Pauseira tinha na sua casinha, ali nas dunas, um canário que estimava muito. O raio do pássaro , um dia apareceu esmorecido .Parecia que tinha lançado um grapelim ao trapiche e de lá não saia ,nem para molhar o bico. E pior ,nem piava.O estipor do canário,dizia o Luis «Cantigas» ,o serrazina do home da Pauseira: -dá-lhe uma «passarinha »a ver se o bicho desperta.Olha que o bicho tem, é falta da «passarinha». T’ asseguro.
-Pois , quem não tem falta da passarinha és tu,«Cantigas» .Há benícias que nem lhe pões a vista em cima. A vista e o resto ,raios, diz inquisilenta a Pauseira ao seu homem. P’ra ti esconjurado ,«passarinha é o garrafão do tinto. Ora vai-te ,que eu tenho mais que fazer c’abanar o traseiro.
«O Cantigas» lá foi a resmungar para a vida. A «Pauseira ficou a fazer horas para ir p’rà escorcha, aproveitando para fazer um caldo de conduto para a ceia. A meio da manhã batem ao «portaló».
-Quem bate? E o que quer ,diz ao tempo que abre a portinhola. Cá fora, especado, o Arnaldo «Mijinhas», uma espécie de botadinho à parte, atrapalhado e nervoso, diz à Ti Pauseira:
-O Ti Luis mandou-me aqui ,dizendo para Vossemecê me dar «passarinha» que ele não teve tempo de lhe pôr a boca em cima.
-O Luis mandou-te mesmo ,para eu te dar a «passarinha»? Ai ele quer mesmo enfeite? Anda cá filho ,que eu dou-te a dita. E agarrando o «Fininho» puxou-o a si com força, atirando-o para o catre disposta a cumprir ordens, que Capitão manda imediato obedece.
Só que o Arnaldo pouco dado a empostas do género ,incapaz de ciar em mar tão encapelado ,fixou com pavor à trabuzana que para ele representava a Pauseira , e espavorido, dá de se libertar do corpo da fera desembolada ,escapulindo-se ao lancão d’alentada mulheraça.
À noitinha ,quando o Luis «Cantigas» voltou da faina ,a Pauseira não esteve com meias palavras:
-Olha lá ó seu zamparilho, atão tu agora já não te satisfazes com a «passarinha», e mandas substitutos p’rà aconchegar?
-C’a estás tu pra aí a xanar, raios? Eu mandei o «Fininho» buscar o garrafão de vinho. A que tu chamas «passarinha»,homessa (?!).
-Homessa (!) digo eu ; o que te vale é que o raio do canário é canária. Senão a estas horas estavas mais enfeitado que o manso do boi amarelo do abegoeiro Ti Aparício.
-À ganda Ti Zefa. Vamos lá acabar a voltinha, que para a semana vossemecê conta-me outra. Combinado, remato eu bardaleiro ?
-Pois atão .Se lhe der volta, apareça lá pela praça .Há lá bom peixe. O que está a dar,agora, é a chaputa» .De entupir uma jàja.
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