segunda-feira, fevereiro 04, 2013

 
Amansar a fera….
Manhã cedo,que a cama nunca fez bem a ninguém,senão para morrer mais comodamente instalado, já que para o resto,para os actos mais lúdicos, a palha e areia, são bem melhores aconchegos, saí para o passeio habitual. Jogging,como agora soe dizer-se,né?.
A ria esplendorosa. Estanhada, nem uma tainha nela bulia. Sol brilhante, já bem alcandorado, depois de trepada a serra do caramulinho,onde aqui e ali ainda se avistavam, uns farrapos sem contornos definidos...O sol invadia tudo, escorraçando a neblina matinal.
Com espirito (já) bem desperto, deixei-me contagiar pela frescura da manhã, reforçando a alegria de  sobreviver a mais uma noite. Apetecia-me  ficar ali suspenso das horas, imutável na paisagem.
Foi pois, um prazer, ir por aí abaixo de um modo tão leve, alegre, quase que num sentimento de imponderabilidade.
OH!!! se alguém com espirito criativo tivesse reposto na beirada da ria,frente ao palmeiral, a antiga esplanada, e criasse um ponto de passeio e lazer, que requalificação se teria feito a esta linda, intrigante, irrequieta e volúvel Costa-Nova!. Coisa bonita só de ser imaginada.
Mas adiante.
Eis que lá do sul, vinham duas pescadeiras ainda desempachadas, em passo mexido, firme e decido, em conversa galhofeira. Chegadas à minha beira abrandaram. E uma delas (ambas sessentonas; uma trajada de luto elucidativo) dirigiu-se-me,  sorridente:    
-Oh (!)  meu senhor acha que somos velhos?
-Quem ? ,perguntei...Todos nós?...
-Sim ....sim...respondeu a rir-se…
-Não; acho que somos já,, é  um bocado usados, atalhei.
-Oh estipor diz a outra: eu que pouco ou nem usada fui. Mas tu que de tanto uso até criaste ferida nas costas, de tanto as esfregares na areia.....
-Ora ora ...se mais usara mais gozo me dera  filha....Quanto mais uso mais òstifação..raios.
-Tem razão mulher; o que é preciso, é amansar a fera...adiantei eu.
-Pois tem razão amigo (!) - disse a desbocada já com intimidade ganha num minuto. Mas é que o «bichano» aqui da Josefa só bebia e ronronava. Pouco ligava á «bichana», ógadinha por uma festinha.
-C'alte aí ,sua esculhambrada, atira a Josefa ofendida. Olha que o Toino(deus o tenha no céu e lhe dê o que lhe tirou nesta vida:- dizia a Josefa enquanto se benzia),inté era danado prá brincadeira.Só que depois com  o espinhaço e as rezas daquela marafona ,a Cláudia do Zé Linguiça, foi-se abaixo do espinhaço. E do resto, rapariga. O pobre bem queria, queria….eu que o diga….mas fio torcido não passa por buraco d’agulha
-Ensebasses o fio rapariga…   
Há dias que nascem bem. Dias bons para se nascer.Também. Mas
 absurdamente desgraçados para se morrer,se fôr o caso.
 Porreiros para um recém nascido se interrogar: valerá a pena? Mas absurdos para ponto final à duvida.
SF  (fev 2013)

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