sábado, agosto 15, 2020






O ílhavo é mais do que um vulgar arquétipo resultante das influência(boas ou más) do meio geográfico: o fruto das suas circunstâncias.
O seu projecto, a sua teimosia, a sua perseverança, a sua resistência à adversidade, a sua ansia de lonjuras fez dele figura com lugar destacado na história pátria.

Mas quem foi,e o que foi ,esse “ílhavo”?

Ao fim e ao cabo, foi o que sempre me motivou: perceber os meus anteriores...libertá-los do anátema redutor de serem só e apenas, actores de  um único acontecimento(período histórico). Esquecidos que. afinal, somos o produto de um projecto áureo (único)de cinco séculos (?) que se integrou e se relevou na determinação   lusíada de abandono do projecto mediterrânico. Os ílhavos foram os atlantistas de plena convicção. Foi com gentiaga como esta que demos passos decisivos civilizacionais.

Sim !,creio que era chegada a hora de me concentrar e arrumar de uma vez por todas a questão da singularidade do arquétipo ilhavense: o ílhavo.
Ao contrário do que muitos pensaram e verteram em textos pouco ou nada consistentes,a semelhança das variantes humanas regionais lagunares, foram escassas. As diferenças foram muito maiores e exprimiram-se com muita maior intensidade  no aspecto psicológico ,cultural e até social. É certo que o homem lagunar ,enraizado e limitado a um espaço geográfico vizinho, teria de absorver e transmitir alguns caracteres onde se catam identidades. Os contactos teriam sido intensos, mas a aculturação esteve sempre presente. A diversidade cultural do homem lagiunar não se deixou inquinar pela diversidade da sua proveniência ancestral.
O ílhavo é profundamente diferente do murtoseiro, como o é do ovarino e como o é do cagaréu.
De onde lhe veio essa identidade diferente?
De onde lhe veio predomínio da imaginação para o longínquo do mar, numa identidade sonhadora que durou séculos? De onde lhe veio a conciliação terra /mar? De onde lhe veio a inquietude e a aventura? Que linha divisória-e como se manteve- com diferenciação absoluta, a vizinhança? Uns acreditando e esperando a boa vontade dos deuses para ungir a terra promissora, os mitos e rituais de fertilidade, vivendo o passar do tempo entre o berço e o túmulo .Outros “os da água”, alimentados pelo sonho que os despertou e impulsionou, à partida em procura do novo. Pouco lhes importando que o túmulo venha a ser  a causa do sonho(da paixão): o mar. Importou-lhes o descobrimento do desconhecido, do distante. De varadouro em varadouro em  procura da rampa de lançamento para a partida perseguida.

Mas ao querer avançar- vem de longa data esta pretensão- pergunto para quê? Ílhavo é hoje um fantasmagórico deserto cultural. Destruir foi fácil. E falar diferente ,parece hoje inutilidade sem sentido.
A palavra “cultura” deixou de ter qualquer sentido. Vende-se ”disso “ a cada canto,em cada cais,em cada malhada, em cada fundeadouro. Vende-se sem se fazerem contas ao retorno. Vende-se cultura a metro, a milhas, a pés. Bem hajam os promotores de tantos cantautores.

 Deles será o reino da “Nocha”.

Senos da Fonseca

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