A Poesia está em qualquer lado...em qualquer dia
Pela noitinha ia para a janela
Do meu quarto
Que despejava
para a rua do Loureiro
Ver passar as minhas putas
No trottoir vizinho dos seus outeiros.
Mulheres da vida, vencidas
Mulheres da vida, de todos
Mulheres da vida, de nada,
Iam fazer pela vida .
Escombros de seres que já
foram
Roídos
pelo taredo,
Sem dia para carenar,
Deixavam no ar um rasto,um perfume,
Que mais do que cativava,
Enjoava.
Lírios
roxos desmaiados
Pintados, retocados,
Papoilas outrora vermelhas
Hoje caiadas de um esborratado
Zarcão,
Em tempos esbeltas;
Hoje derreadas, a carregarem
Todas as estrelas do céus
Que miraram,
Enquanto delas outros se
iam servindo.
Nos olhos ia-lhes uma tristeza imensa
Ao verem o corrupio de gente
Que passava e não
parava,
Sem nunca lhes ter chegado
Aos ouvidos a serenata
Que delas fizesse
Meninas enamoradas.
E Lourdes,a mariposa mais
bela
Da rua do Loureiro,
Outrora Rainha no trono
Hoje festim de prazeres,
Esconde no peito
A sua alma negra
Cheia de vícios
e de outras façanhas.
Onde já
nem um sol pardacento
Brilha,
E pede ao vento:
Oh vento polidor de estrelas
Vem! Vem dai dessas fráguas,
Vem amaciar minha carne
Vem -me dar o afago do
teu corpo
Vem levar os arrepios de
frio que sinto
Os ais gelados
De quem tudo perdeu
E já nada
tem.
Nem respeito nem dignidade
Só o
agradar a quem me
desagrada.
Vem vento ! E leva para longe
Pedaços
do meu coração
estilhaçado
Vem vento!
Para me levares a mim...
Meu corpo já
não se
vende
Meu corpo já
não me
basta
Meu corpo já
de nada me serve
Para deixar de ser escrava.
SF
(Com a devida vénia ,cito Gabriel Garcia Marques)
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