PORQUE ESCREVINHO
Tenho ultimamente abordado este assunto. Dizê-lo melhor que o nosso D Duarte era bem difícil:
Achey po boo e proveitoso remeduio alguas vezes pensar e de mynha mãao screver em esto por requirymento de voontade e folgança que em ello sento ;cá de outra guisa nunca o faria ,porque bem sey quanto pêra mym preta fazello o leixallo de fazer
D. Duarte («ENSINANÇA DE BEM CAVALGAR TODA A SELA»)
-------------------------------------------------
ALÁ É GRANDE.Eu SOU PEQUENO...
Seja no pino do Inverno, seja em Maio, ou até em Agosto, a mínima baixa de temperatura dá-me a oportunidade de, na costa Nova, acender a lareira.
Censuram-me o gesto. Que censurem. Que quando estou bem as censuras parecem-me pregações aos peixes.
Faço-o - eu que me adapto muito melhor ao frio que ao calor: -mais por passatempo que por necessidade, Passatempo para os olhos e para o ecrã onde o que vejo se reflecte. Interiormente.
Coloco-me, estrategicamente na posição que orquestrei quando projectei aquela casa.
Sentado em frente ao fogo que dança em labaredas numa coreografia irrepetível a cada acto, deixo que o brasido vá amorrentando enquanto lanço um olhar inquiridor a norte e a sul. Um simples volteio da cabeça, mo permite.
A tarde abranda; com ela as gaivotas tornam-se mais pachorrentas, menos erráticas. Fico a olhá-las enquanto o sol esmorece e sobre a coroa descoberta pela maré navega uma poalha ténue de neblina. O brilho do ar parece esmaecer.
Chegam os tardios – ou madrugadores – arroteadores do molusco. Abicam as embarcações, não se dando ao trabalho de alçar o barco; a maré desce. E daqui a pouco, toda embarcação ,da bica à ré, estará varada. A estadia está calculada. Horas para a vaza e outras tantas para a flutuação.
Envergando as botifarras que sobem até lhes servirem de albaióis, os navalheiros saltam lestos, prontos para catar o lodo sob o qual «as navalhas», ofegantes, respiram. Dois olhitos denunciam-nas traindo a sua posição. Antes de as borrifarem com o sal, param para acender um cigarrito; olham em volta, parecendo incomodados com a agressão à natureza.Mas encolhem os ombros e atiram-se de novo à cata. Eles procuram apenas a sobrevivência. A sua tarefa tem tanto de agressividade como a do seu antecessor erectus que espetou um Tyrannosaurus com uma lança de sílex.
Estendo o olhar sobre a paisagem. Os borrelhos aterram, dispondo-se estrategicamente alerta, prontos a levantar voo ao menor sinal de perigo. Fixo o seu sentido de auto-defesa. Como o meu. Não gosto que os outros interfiram no meu mundo, especialmente em momentos em que, como este , busco o calor exterior na lareira para compensar a falta do que me vai na alma. Ninguém, nenhum intruso se intrometa, senão levanto voo.
Resmoneando, emborco uma – um dois, ou três…- wiskies .Volto a olhar para longe, preguiçoso de despegar o olhar da paisagem. Vislumbro o Caramulinho recortado no azul avermelhado do lusco-fusco. Amanhã, se aqui vier cedo, vejo-o já todo plasmado num saltarico de verde, empertigado, soberano guardador da paisagem lagunar. As serras enclausuram-me. Vou lá e fujo. A planura lagunar dá-me liberdade. Fico por aqui aguilhado, preso na sua liberdade.
Sinto medo de a perder.
É nestes momentos que me acodem visões de um exército de belzebus, comandados por um al moeda (?) Ibn-el- Oribau, que à frente de uma horda de azenegues nazarenos ou encarnavos se propõe fazer palácios árabes, infiéis, mais altos que o Caramulinho, encarrapitados a boiar sobre a laguna.
Alá é grande! E não consentirá…
Eu sou pequeno .Bebo á saúde de Alá. Dele!.. e louvaminho todos os deuses que não consintam que eu deixe de dormitar à lareira, a descansar os olhos naquele oiro esparrinhado no azul lagunar.
Aladino
quarta-feira, março 19, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
A « magana » que espere.... Há dias que ainda me conseguem trazer interesse renovado, em por cá estar por mais uns tempos. Ao abrir logo ...
-
Na Sociedade de Geografia Tive ontem, o grato(e honroso)prazer de participar na apresentação do meu último livro ” Saberes que Tornaram Po...
-
Há dias em que “elas” acontecem.... Ontem, o Grupo dos Amigos do Caldo de Feijão (eu gosto mais de lhe chamar Caldo Gafanhão),surpreendeu-...
-
LEMBRANDO–TE.... Fazias hoje 86 anos..... Onde quer que estejas, sei que entenderás, porque sempre nos aprendemos a descobrir ...
Sem comentários:
Enviar um comentário