QUE FIQUE CLARO...
Primeiro:
Não tinha lido último «O Ilhavense».Foi pessoa amiga, atenta, que fez o favor de me contactar, chamando-me a atenção para uma série de coisas que lá vinham, que talvez no seu entender, justificassem uma olhadela minha.
Curiosamente, a solícita amiga, tinha reparado numa estranha coincidência.
Num trabalho muito louvável – confirmo-o desde já em absoluto -a Prof. Isabel Madail vem publicando um Glossário de Regionalismos, no Jornal, de que me não tinha dado conta.
Ora, no Blog de há dias, disse-me a atenta leitora – eu teria empregue a palavra BALANDRAU, precisamente uma das que estavam incluídas no referido glossário. Coincidência pura, mas engraçada. Fez-me sorrir, pois que a utilizei, até hoje, uma ou duas vezes, se tanto. E embora, pessoalmente, não a considere um regionalismo, reconheço que a ouvi em Ílhavo. E logo por coincidência, a referi na data em que a mesma vem referida no Glossário, inserido em «O Ilhavense» (embora me pareça que com uma gralha de edição)
Nada mais do que a ocasional coincidência. Mas lá que as hay…hay…
O trabalho de Isabel Madail, que já há bem pouco tempo trabalhou num opúsculo com Hugo Calão, sobre o «Sr. Jesus dos Navegantes» – aqui referido na altura –, é apenas a confirmação do muito que esta ex-professora do Ensino Secundário, poderia, se o quisesse, ser (muito) útil à cultura ilhavense.
Depois da geração de vinte a cultura local ensombrou (e quase soçobrou). Ficou nos tinteiros. Fez-se pouco ou quase nada. Parece que nos últimos anos algo está a mudar, apenas e só produto da iniciativa de meia dúzia, completamente desamparados. Todos os que são capazes – e Isabel Madail, é-o -deveriam perder o medo, ou acanhamento, e deveriam publicar aquilo que sabem. E há muitos domínios ainda obscuros. Sugeri já, o quão interessante seria olhar com mais profundidade para a história da igreja, em Ílhavo, tão associada a mesma está à história da urbe e das suas gentes, que é impossível dissociá-las, até ao século XIX. Isabel Madail é uma dessas pessoas, entre outras, a conhecer bem esses meandros, podendo, pois, esclarecer muito que urge explicar, ou melhor conhecer.
Segundo
O curioso de tudo isto é que tenho já entregue na tipografia, pronto para edição «O Labareda». E o que é o«O Labareda»? É um escrito feito num linguajar mais do que regional, local. Que começando por ser uma coisa bem diferente, quando o terminei, cego ainda pelo olhar doce da «Amélia Labareda», e voltei atrás, ao olhá-lo encontrei, em rodapé – felizmente o Word foi-os registando e alinhando – cerca de 300 expressões (palavras) boiando no caldo do falar das nossas gente de antanho, servindo-lhe de conduto.
O que começou por ser uma (1) página para o Site, transformou-se num exercício em perfeita embriaguês que se foi escrevendo a ele mesmo. Estará cá fora em Maio.
Não sendo, pois, um Glossário, ou não o pretendendo ser, conterá, inevitavelmente, antevejo, algumas das palavras que Isabel Madail registou e tratou; e certamente muitas outras bem diferentes. Não há nada de mal. Antes bem pelo contrário. Tudo o que fizermos para enriquecer a nossa memória sobre o passado das nossas gentes, será bem-vindo.
E se feito esse reavivar de um modo sistematizado, orientado por profissionais como a Dr.ª Isabel ,então estaremos perante trabalhos de maior profundidade do que os feitos ao correr da pena, em exercício de paixão que teimou em não acalmar, inebriado com «O Labareda»,a «ti Norta» e a «Maria Pederneira» e «O Pilado», postos a esbarafustar.
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ESCANDALIZEI ?!…
Aqui há uns tempos parece que escandalizei quando, publicamente disse que «me estava marimbando para os que me liam, pois não era essa a minha preocupação quando escrevinhava»
Nos últimos dias tenho-me deliciado – é o termo – com a leitura de Luís Pacheco, o escritor maldito.
Ora nele, e no drama de uma quase loucura libertina perpassada pela genialidade, detectei algumas sensações que, com espanto, me são também comuns. Serei menos louco que Luís Pacheco. Vá lá! Certamente. O que serei-iso é certo- é um zero cultural perante um dos maiores da cultura portuguesa, que nela só não foi tudo, porque não quis.
Quando o vejo dizer que ficava passado (ele disse-o em calão, claro!) quando o elogiavam; e que ,ao contrário, restava muito melhor quando o atacavam e ou censuravam, pois ficava muito mais descansado porque ,assim ,o ajudavam a meditar...,
Reflicto,
na leitura de L.P. dei com aquilo que tenho repetido imensas vezes neste Blog: -as censuras motivam-me; os elogios (felizmente bem poucos) atrapalham-me, inibem – me.
Mas mais espantoso foi a afirmação de L.P que dizia : quando escrevo quero é lá saber do leitor. Ele fazia aquilo para si e nem sabia se o ia publicar. Se lhe dava gozo, fazia-o; se não lhe dava, rasgav. O leitor que se lixasse…dizia…
Ora é isto mesmo o que eu quis dizer com a minha – oh! céus – terrível afirmação.
Explico: as coisas quando começam, são só e exclusivamente feitas para mim, mesmo. O gozo inebria-me.Por vezes o difícil é parar. Ora durante o tempo em que as palavras são só minhas, divirto-me. Tenho mesmo medo que o prazer se vá.
Mas quando chego ao fim e dou por mim, num caso ou noutro, a entender (sem ouvir opinião seja de quem seja) que aquilo até «tem forma e virtualidades» para ser publicado, o gozo finda. Vai. Esfuma -se.
Começar a corrigir, pôr-me no lugar do leitor, avaliar o sentido, o ritmo, tudo enfim, torna-me ansioso, enerva-me, força-me, retira-me todo o prazer ao trabalho (nesta fase já é trabalho, por vezes forçado). A naturalidade com que surgiram as ideias que deram corpo ao escrito, desaparece como por encanto. Parece que me chego a aborrecer com aqueles que um dia, eventualmente, me poderão vir a ler, parecendo culpá-los do prazer que me retiraram, de aquilo não ser só para mim.
A primeira fase exige-me espontaneidade, naturalidade, sinceridade. Deixar-me levar pela intuição sem esquemas rígidos: escrever tudo de um jacto, sem uma emenda, sem a preocupação de ser bonito, pois é só para mim. A segunda exige-me paciência, esforço, insistência, que por vezes se transformam em sofrimento.
Expliquei-me?!. Então esqueçam o que disse… o escriba.
ALADINO
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