sexta-feira, janeiro 25, 2008

Avisos Paroquiais (3)

" Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência.
É uma boa ocasião para se livrarem das coisas inúteis que há nas suas casa. Tragam os seus maridos!"

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Voltando (para já) a Filinto Elísio:


De vez em quando, ou de quando em vez, dou uma volta pelos papéis que andam por aí, arquivados.

Fi-lo recentemente, e lá voltei a dar com o «FilintoElisio», praticamente pronto, mas parado.Foi um trabalho que me deu muito que fazer. Tenho fundadas esperanças de que um dia esta terra acorde- finalmente!- e se interesse por aquele que foi um eleito, um grande senhor da literatura e cultura Pátrias, filho de dois humildes «ílhavos»,daqueles que foram daqui fazer vida, para Lisboa..A mãe ,Maria Manuel, levava já o seu rebento na barriga, quando daqui se foi. Se Filinto (Francisco Manuel Nascimento de seu nome verdadeiro) não foi nado e criado em Ílhavo, foi aqui gerado.

E enquanto Filinto repousa no Arquivo, à espera do tempo, ao reler as notas que enformam aquele trabalho, chamou-me a atenção um poema de uma das suas alunas dilectas, a Marquesa de Alorna, que julgo por bem aqui incluir.

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Poucos se debruçaram sobre a obra de Filinto Elísio, para lá dos estudiosos da cultura portuguesa: Teófilo Braga, António José Saraiva, Óscar Lopes e Hernâni Cidade

José Tavares, o «meu» reitor do Liceu, homem culto, muito sabedor e um excelente pedagogo, dedicou a Filinto um pequeno (mas não menos importante) trabalho, em que deu a conhecer alguns dados biográficos do poeta, juntando-lhe uma série de poemas, por si seleccionados, para enformar o estudo.

O Prof. Fernando Moreira, nas «Obras Clássicas da Literatura Portuguesa», publicou todas as obras de Filinto, contidas em 12 Volumes. Só por esta simples referência é possível extrair a ideia da extensão da obra poética de Filinto. Mas lendo-o, reconhece-se facilmente a grandeza do notável escritor, figura impar do período Pombalino, que em odes, sonetos, canções e madrigais, se expressou no mais belo lirismo do mais puro Camonismo, visando a restauração do estilo clássico de quinhentos, no rigor de bem falar português, aspirando a falar e a escrever a verdadeira língua portuguesa de Camões e Vieira.

Filinto viveu grande parte da sua vida (pós Viradeira) exilado em Paris, perseguido pela Inquisição. Referem-se os estudiosos ao seu reconhecido talento, vertido num esforço de regenerar a escrita pátria, tendo chegado a considerá-lo o maior cultor da língua, depois de Camões e Vieira.

Filinto pretendeu recuperar o sonho ideal do Homem português e da Identidade Nacional propostos por Camões; um povo mais do que um povo; uma nação mais do que uma nação, um território mais do que um território, nem que tal expressão não corresponda, em exacto, à história lusa. P. António Vieira emprestou a arte da palavra para convencer em estilo profético, que não importava a exiguidade territorial, pregando que o preciso é acreditar que um dia (complexo sebastianico) chegará a hora do Quinto Império se os portugueses se determinarem a quererem mais do que aquilo que seria licito serem capazes de esperar.Nascerá assim, providencialmente, um novo Portugal, uma pátria gloriosa, superior a todas as outras: - esta foi profecia de Vieira.

Ora Filinto viveu no tempo de Pombal, tempo de um Portugal inferior. O Marquês pretendeu opor-se à posição da Igreja e dos Jesuítas com uma politica realística, de como e o que, se deve ensinar, para que Portugal fosse capaz de criar as suas elites que o colocariam a par das nações mais desenvolvidas da Europa. Filinto viveu junto do poder no tempo de Pombal e será ele, ao tempo, o porta voz das ideias filosóficas de Rosseau «de como os homens se igualam», ao denunciar todos os astutos malandrins que alienavam as mentes dos povos, impedindo-lhes o rumo de serem livres. De Filinto -um padre! -. brotaram as palavras mais rudes contra a acção nefasta da Igreja e dos frades no governo dos povos.



Filinto foi professor no Convento de Chelas, das duas filhas de D João de Alorna que se viu implicado no atentado que o Duque de Aveiro teria perpetrado contra D José.

D.João, homem culto, fidalgo de grande carácter, sem soberba nem arrogância, era casado com uma Távora. Por tal motivo pretendeu-se envolvê-lo no caso do atentado, com o fim de riscar os Távoras e os seus próximos, do conhecimento pátrio.

Se é certo que escapou a ser torturado, esventrado e depois queimado, como sucedeu entre outros a seus sogros, foi contudo encerrado nas masmorras da Torre de Belém, separado da esposas e filhas (e filho, D. Pedro, o ultimo dos Távoras), que foram internadas no convento de Chelas, de onde só sairiam com a «Viradeira» (deposição de Pombal).

Aí, Filinto Elisio foi professor aplicado de D. Leonor de Almeida, futura 4ª Marquesa de Alorna e de sua Irmã D. Maria (Daphne) Almeida (com quem até se insinuou manter uma relação pecaminosa). Foi Filinto quem proporcionou a D. Leonor o acesso aos livros de Rousseau, Voltaire, Diderot e D’ Alembert, e quem lhe abriu as janelas às ideias do iluminismo francês e às novas correntes literárias do tempo, o que fez de D Leonor,uma mulher sensível, muito culta e inquieta, adiantada para a época,que se tornará numa poetisa de grande dimensão, sob o arcádico nome de Alcipe, tendo publicado inúmeras obras recolhidas nas «Obras Poéticas da Marquesa de Alorna». Traduziu, ainda, grandes autores , debaixo da influência e orientação de Filinto Elísio ,como foi o caso da «Arte Poética» de Horácio.

O que pretendemos hoje, ao remexer nos papéis sobre Filinto, é registar uma Ode de D. Leonor (Alcipe), que consideramos do maior interesse.



Para o Nada, a Não existência, caminhamos

Das ideias erradas o fermento
Produziu nova série de infortúnios:
Fomos Francos (franceses), Hibérios (ingleses), só não fomos
sensatos portugueses

Ah ,senão renascer com a Pátria a glória
se a ciência (o uso recto da razão),a justiça ainda dormitam,
se a Moral não desperta, a Industria (o espírito, o engenho)acorda


-ao que caminhamos!


Marquesa de Alorna,1824
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Aladino


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