PROIBIR ?…
Fica proibido ..proibir ..
Nunca fui fumador .Tentei sê-lo – até fumei barbas de milho!- e não consegui ,apanhar o vício .Que nunca ninguém me proibiu,já agora ,diga-se.Com a saída da nova Lei antitabágica ,por a achar excessiva ,resolvi efectivar o meu protesto .Fui comprar umas COHIBAS, e dá de me deliciar.Resultado: ouvi logo ralhetes, aqui, em casa, e até ameaços :
-Vou telefonar à ASAE, disseram-me.
-Ora ainda bem . Telefonem, para que venham, finalmente(!) ,canonizar-me, por sobreviver a esta ditadura que desde há cinquenta anos me quiseram impor, e a que sempre me neguei sujeitar.... retorqui ,eu
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Se nem quem os vendia, neles acreditava ….
Fui buscar - num destes últimos dias - uns exames médicos , que por serem complexos e decisivos - ou tudo bem ou data de embarque marcada - me andavam a pôr algo nervoso. Eu também concordo com os médicos : é impossível que com tantas asneiras não haja mossa e das grandes.Afinal,não é o caso. Por enquanto o cadáver resiste, adiando…
Curioso.Lembrei-me :
Já ultrapassados os oitenta anos, a minha Mãe – que não acreditava em nada disso, dos remédios, e de quem os receitava !-, a insistência familiar sujeitou-se a um checking, minucioso.
- Coração bom ,pulmões muito bons,fígado bom ,baço muito bom ,rins perfeitos etc etc. –ia-lhe dizendo, simpaticamente, o médico.
Às tantas minha Mãe virou-se para ele, e , desconcertante, disse secamente:
- Está a ver sr. Doutor : foi uma perda de tempo ter vindo consultá-lo.
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Dá gozo ,furar as estatísticas
Ora aos trinta anos ,perante a «pancreatite aguda», foi-me sentenciado:
-Se quiser sobreviver, nunca mais : nem molhos, gorduras, vinho ou qualquer bebida alcoólica etc .Só carne grelhada ,galinha velha cozida ,caldinhos etc etc.
Cumpri durante uns bons cinco anos, um regime de monge cartuxo. Depois fartei-me.E avisei toda a gente, e até o médico que me segue há quarenta anos .Que visita após visita foi registando as loucuras proibidas, espantado. Sou hoje o doente mais antigo do dr. Castro Monteiro. Um processo clínico que no dizer do simpático professor, daria um bom manual «De Como Sobreviver Asneirando».Tudo assinalado a lápis vermelho. Pontos de exclamação?... mais do que aqueles que habitualmente uso ? De tal modo que aqui há dois anos perante as análises me disse :
-Ná!.. .não pode ser .Isto não é seu..Você vai tirar análises neste Laboratório do Porto , para eu acreditar .
E lá fui .Que confirmaram: nem colesterol, nem ácido úrico, nem diabetes, nem PSA …nada…nada.O que levou C.M. a exclamar :
-Oh eng. você estragou-me as estatísticas…
E assim - arriscando -, a vida teve os seus encantos. E cá cheguei.Olhem se eu não arriscava !... .Que sensaboria. Só me sobravam os desencantos.Olho, pois, para mim, e revejo-me sorridente neste meu modo de ser rebelde ,indomesticável, que duvida de si – é claro !- mas duvida muito mais, dos outros. Que segue pelo seus próprios olhos, assumindo as suas opções( certas ou erradas).Se fosse crente diria : só Deus sabe o quanto me dá gozo, saber que por vezes tenho razão: ganhar ,perder, sonhar ,tudo faz parte do jogo da vida. Que em minha opinião deve ser praticado, não à defesa, mas ao ataque. Assim só eu (!) é que sei.
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Viver, duvidando. Sempre!!!
Andei uma vida a ouvir:
«cuidado com a obesidade ;cuidado com o sol; cuidado com o whisky…..»
Agora cientificamente, vêm-nos dizer que, afinal :
«Os gordinhos até resistem melhor; apanhar sol é um bom antídoto contra o cancro; beber um whisky é um bom remédio para a tensão etc etc..»
Ora aí está.Olhem se eu me preocupava muito com todas as patetices, e era (só agora!) chegado o momento de me sentir enganado, sem tempo para recuperar.
Por isso mesmo vivi de pé atrás com essa outra questão: -a da fé. Um dia vai chegar, em que a ciência explicará o que agora não sei. Se nesse tempo vivesse e tivesse acreditado só por acreditar, sentir –me - ia tragicamente enganado .Assim, à cautela, vou duvidando por princípio…E cá vou respirando, agradecido aos sentidos que não se cansam de admirar , e ao coração que não se cansa de amar.
E sim : isso…isso mesmo: - também agradecido á minha natureza, que não se cansa de desejar…
Por isso posso dizer :aqui está um que faz tudo para viver a sério. Sem complexos de pedir perdão pelas asneiras feitas. Repeti-las seria o meu desejo. Mas seria pedir demais à vida.
Mais vale pedir piedade à morte que perdão à vida.
Nunca me hei-de demitir de mim !...
Se não fosse proibido proibir …Eu! proibia-me de alguma vez o fazer.
Aladino
sexta-feira, janeiro 11, 2008
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